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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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ARTES

Pouco procurados para a apreciação de suas obras, cemitérios têm rico acervo

Arte imortal

Eduardo Knapp/Folha Imagem
"Solitudo", de Francisco Leopoldo e Silva, autor do primeiro nu realizado no Cemitério da Consolação, em 1922


ALEXANDRA MORAES
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

São Paulo não deposita suas obras de arte apenas em museus, galerias ou coleções particulares. Grandes exposições a céu aberto podem ser percorridas em lugares que, à primeira vista, podem causar estranhamento.
Hábito comum em outros países -caso da França-, a ida aos cemitérios para a apreciação de esculturas ou para a visitação de sepulturas de personalidades tem acolhida pequena no Brasil.
"É um segmento carente. Tem potencialidade, mas que eu saiba não há nada de muito organizado. Talvez seja falta de costume", avalia o professor de turismo da USP Américo Pellegrini Filho, 66.
A potencialidade a que se refere Pellegrini encontra materialização na cidade, onde ao menos três lugares se prestam ao "turismo tumular", exibindo uma mescla de trabalhos de artistas relevantes com presença de nomes conhecidos em diferentes áreas.
Barões do café, artistas, intelectuais e políticos, figuras públicas que viraram logradouros -o doutor Cerqueira César, que denomina um bairro paulistano, por exemplo- povoam o Cemitério da Consolação, o mais antigo de São Paulo, em funcionamento desde o longínquo 1858.
Por lá, há um bom número de túmulos ornados por trabalhos de grandes escultores, como Victor Brecheret, Francisco Leopoldo e Silva, autor do primeiro nu do local, produzido nos anos 20, ou Bruno Giorgi, criador de interessante peça abstrata.
É profusa a quantidade de jazigos e capelas feitos de granito, mármore de carrara e bronze, apontando para a antiga prosperidade da agricultura e da indústria. Uma das realizações que mais chamam a atenção é a réplica miniaturizada de uma catedral gótica, realizada pela marmoraria J. Savoia. Exemplo da grandiosidade de outros tempos, o mausoléu da família Matarazzo, executado por Luigi Brizzolara, ocupa cerca de 150 m2, atingindo 20 m de altura. É tido como o maior da América do Sul.
Mas entre os notáveis há também abrigos modestos, como é o caso da trinca modernista dos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e da pintora Tarsila do Amaral.
No Cemitério da Consolação, desenrola-se desde 2001 uma iniciativa que busca minorar seu pouco aproveitamento turístico. O projeto Arte Tumular, do Serviço Funerário municipal, promove visitas monitoradas, com grupos de, no máximo, 15 pessoas. "Recebemos cerca de 300 interessados por mês", diz Eliana Queiroz, 26, coordenadora do programa.
Rumo ao bairro de Pinheiros, na região oeste, podem ser encontrados mais dois destinos para esse tipo de passeio: o Cemitério do Araçá e o Cemitério São Paulo.



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