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Crítica/artes plásticas
Iran do Espírito Santo cria obras sedutoras e irônicas
Artista presente na Bienal de Veneza tem mostra em cartaz na Estação Pinacoteca
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para muitos, a arte contemporânea mais afasta
que atrai visitantes aos
museus. Normal, quando a expectativa de quem visita uma
mostra é consumo rápido tipo
fast-food com diversão garantida. A arte contemporânea está
bem distante desses parâmetros, e a frustração dos não-iniciados pode ser compreensível.
Reflexão e polêmica, para esse grupo, não faz parte do universo artístico, ao contrário dos
caminhos que a própria arte
trilhou no século 20.
Entretanto, alguns artistas
conseguem romper esse verdadeiro abismo, como é o caso de
Iran do Espírito Santo, como
pode ser comprovado na mostra "Uma Visão Geral", que
ocupa todo o terceiro andar da
Estação Pinacoteca, com curadoria de Ivo Mesquita.
É inegável o apelo sedutor de
suas obras, e dispô-las em amplos espaços lhes assegura
maior valor de culto, estratégia
bem empregada na exposição.
Utilizando materiais nobres
da tradição da escultura, como
o mármore, ou aproveitando-se
do fascínio de vidros ou metais
espelhados, Espírito Santo
constrói obras admiráveis e
elegantes por sua simplicidade
mas também densas e complexas pelo diálogo que provoca
com a própria história da arte e
da representação.
"Extension Fade Horizontal", um grande mural em formato de tijolos acinzentados
que vão desaparecendo conforme se aproximam do solo, mesma obra exposta atualmente na
Bienal de Veneza, é típica na
forma como o artista constrói
sua poética.
Criado a partir de elementos
banais, como a própria representação do tijolo, presente em
tantos locais da cidade, Espírito
Santo remete ao minimalismo
de Sol LeWitt, com seus desenhos de parede construídos por
padrões.
Entretanto, a obra do artista
não faz mero reflexo do minimalismo. Há uma ironia e um
humor em seus trabalhos bastante distantes dos formais minimalistas. "Copo D'Água", por
exemplo, escultura em forma
de copo construída com vidro
maciço, contraria a própria
idéia de copo -afinal, se ele não
está vazio, para nada serve.
Referência a Magritte
Nesse sentido, suas obras estão mais para a operação de
Magritte, com seu questionamento à aparência da representação. Na obra de Espírito Santo, um copo não é um copo, assim como uma caixa tampouco
é uma caixa, como se vê na série
das caixas (preta, cinza e branca), todas em mármore maciço.
Para o filósofo tcheco Ivan
Bystrina, é o inútil que marca o
mundo da cultura, pois o ser
humano abandona seu estado
de natureza quando, por exemplo, deixa simplesmente de comer alimentos crus para cozinhá-los, operação que pode
chegar a requintes infindáveis.
Grande parte do fascínio pela
obra de Espírito Santo surge
dessa ironia do culto ao inútil,
de objetos que seduzem, mas
não têm função.
IRAN DO ESPÍRITO SANTO - UMA VISÃO GERAL
Quando: de ter. a dom., das 10h às
18h; até 11/11
Onde: Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, tel. 3337-0185)
Quanto: R$ 4 (sáb., entrada franca)
Avaliação: ótimo
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