São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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Crítica/artes plásticas

Iran do Espírito Santo cria obras sedutoras e irônicas

Artista presente na Bienal de Veneza tem mostra em cartaz na Estação Pinacoteca

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para muitos, a arte contemporânea mais afasta que atrai visitantes aos museus. Normal, quando a expectativa de quem visita uma mostra é consumo rápido tipo fast-food com diversão garantida. A arte contemporânea está bem distante desses parâmetros, e a frustração dos não-iniciados pode ser compreensível.
Reflexão e polêmica, para esse grupo, não faz parte do universo artístico, ao contrário dos caminhos que a própria arte trilhou no século 20.
Entretanto, alguns artistas conseguem romper esse verdadeiro abismo, como é o caso de Iran do Espírito Santo, como pode ser comprovado na mostra "Uma Visão Geral", que ocupa todo o terceiro andar da Estação Pinacoteca, com curadoria de Ivo Mesquita.
É inegável o apelo sedutor de suas obras, e dispô-las em amplos espaços lhes assegura maior valor de culto, estratégia bem empregada na exposição.
Utilizando materiais nobres da tradição da escultura, como o mármore, ou aproveitando-se do fascínio de vidros ou metais espelhados, Espírito Santo constrói obras admiráveis e elegantes por sua simplicidade mas também densas e complexas pelo diálogo que provoca com a própria história da arte e da representação.
"Extension Fade Horizontal", um grande mural em formato de tijolos acinzentados que vão desaparecendo conforme se aproximam do solo, mesma obra exposta atualmente na Bienal de Veneza, é típica na forma como o artista constrói sua poética.
Criado a partir de elementos banais, como a própria representação do tijolo, presente em tantos locais da cidade, Espírito Santo remete ao minimalismo de Sol LeWitt, com seus desenhos de parede construídos por padrões.
Entretanto, a obra do artista não faz mero reflexo do minimalismo. Há uma ironia e um humor em seus trabalhos bastante distantes dos formais minimalistas. "Copo D'Água", por exemplo, escultura em forma de copo construída com vidro maciço, contraria a própria idéia de copo -afinal, se ele não está vazio, para nada serve.

Referência a Magritte
Nesse sentido, suas obras estão mais para a operação de Magritte, com seu questionamento à aparência da representação. Na obra de Espírito Santo, um copo não é um copo, assim como uma caixa tampouco é uma caixa, como se vê na série das caixas (preta, cinza e branca), todas em mármore maciço.
Para o filósofo tcheco Ivan Bystrina, é o inútil que marca o mundo da cultura, pois o ser humano abandona seu estado de natureza quando, por exemplo, deixa simplesmente de comer alimentos crus para cozinhá-los, operação que pode chegar a requintes infindáveis.
Grande parte do fascínio pela obra de Espírito Santo surge dessa ironia do culto ao inútil, de objetos que seduzem, mas não têm função.


IRAN DO ESPÍRITO SANTO - UMA VISÃO GERAL
Quando:
de ter. a dom., das 10h às 18h; até 11/11
Onde: Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, tel. 3337-0185)
Quanto: R$ 4 (sáb., entrada franca)
Avaliação: ótimo


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