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MOSTRA DE DRAMATURGIA
Ciclo teatral do Sesi chega ao fim com humor e despretensão
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Ao contrário do que aconteceu nas duas primeiras jornadas da Mostra de Dramaturgia
Contemporânea, desta vez a primeira peça não contrasta com a
segunda. O que é surpreendente,
já que "Então, Felicidades!" é do
veterano autor, diretor e cineasta
português José Mora Ramos, e
"Mal Necessário" é de um jovem
dramaturgo paulista quase principiante, Cássio Pires.
Em ambas as peças, diálogos
ágeis e situações inusitadas vão girando em falso em torno de um
cenário simbólico, de modo algo
enigmático, mas sem que se pretenda chegar a nenhuma revelação profunda. É como se fossem
duas histórias em quadrinhos sobre conflitos conjugais.
Lírica e glamourosa, "Então, Felicidades!" se parece com os estranhos sonhos do quadrinista italiano Milo Manara: um neurótico
casal em segunda lua-de-mel sofre um naufrágio e sobrevive nos
escombros de um transatlântico,
só a champanhe e caviar. Por seu
lado, a fábula de Pires poderia ser
uma "graphic novel" de Will Eisner: em um clima de paródia de
filme noir, dois agentes patéticos
procuram por um documento
perdido em meio a um enorme
arquivo morto.
Nas duas peças, a intromissão
de um terceiro personagem (um
pianista mudo na primeira peça;
uma enfermeira redentora na segunda) vem interromper essa
loucura a dois, sem no entanto fazer que o universo volte a fazer
sentido.
Tanto Regina Galdino, que dirige a primeira peça, quanto Marcelo Lazzaratto, diretor da segunda,
garantem, antes de tudo, a diversão dos atores, que brincam como
crianças no cenário comum, o gigantesco trepa-trepa criado por
Daniela Thomas, que a luz de
Wagner Freire faz passar de agorafóbico a claustrofóbico.
Deste modo, esta segunda mostra de dramaturgia do Sesi se encerra mostrando claramente a
que veio. Não revelou grandes
obras-primas, nem procurou estabelecer um painel que esgotasse
o que melhor se tem feito em teatro fora eixo Rio-São Paulo. Entre
dramaturgos veteranos cheios de
jovialidade e jovens já com firmeza no taco, o Teatro Promíscuo
exerceu um teatro despretensioso, que cumpre seu papel com desenvoltura .
Assim, do alto de seus 66 anos
de juventude e do posto de observação de seu transatlântico meio
improvisado, Renato Borghi olha
o horizonte e sorri. Parece gostar
do que vê chegando. E um grande
sopro de ar fresco ganha a platéia
também.
Então, Felicidades!
Mal Necessário
Onde: Teatro Popular do Sesi (av.
Paulista, 1.313, tel. 3146-7405)
Quando: de hoje a dom., às 20h30
Quanto: entrada franca
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