São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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"Prêt-à-Porter", 10, estréia sua nona edição

Atores escrevem e dirigem cenas do projeto coordenado por Antunes Filho

Diretor do CPT diz buscar cenas "minimalistas" e defende retorno à "origem do teatro" para fugir da "retórica vazia e eloqüente"

Raimundo Paccó - 12.jan.2008/Folha Imagem
Osvaldo Gazotti e Vanessa Bruno apresentam cena de "Prêt-à-Porter 9', em ensaio no dia 12


CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa manhã chuvosa de sábado, acontece, no Sesc Consolação, um ensaio de "Prêt-à-Porter 9" para os atores do Centro de Pesquisa Teatral e seu criador, Antunes Filho, uma semana antes da estréia.
"É para ser minimalista mesmo, para quem não sabe. Nada suntuoso", diz Antunes, 78, aos jornalistas presentes, antes do início da primeira cena.
A proposta de "Prêt-à-Porter", que faz dez anos e estréia hoje sua nona edição (ingressos esgotados), com uma exposição de fotos, é apresentar cenas "naturalistas", "contra qualquer estereótipo".
O cenário deve ser só o necessário para a cena, sem excessos. "Eu detesto o bonitinho. Eu gosto do que é realmente significativo e fundamental."
Coordenador do projeto, Antunes ainda não havia visto as cenas prontas. No "Prêt-à-Porter", os atores escrevem, dirigem, cuidam de luz e cenário. Ao final da primeira cena, "Um Escritório ao Entardecer", sobre a relação de dois funcionários burocratas e reprimidos, com Vanessa Bruno e Osvaldo Gazotti, todos esperam pelas palavras do coordenador.
"Acho ótima a dramaturgia."
Aconselha mudar a respiração, pede a opinião da platéia de atores, que concorda com tudo, e todos deixam a sala de ensaio para que a segunda cena, com Simone Iliescu e Angélica di Paula, seja preparada.
"É maravilhosa, má, dá vontade de vomitar", diz Antunes sobre "Edifício Copan", em que duas mulheres enfrentam o tédio, confinadas em um minúsculo apartamento.
"Essa cena é muito sofisticada. É para educar o público mesmo. Chamar isso de exercício, vai pra...". O diretor se refere ao fato de o projeto ter sido chamado assim por jornalistas.

Siga o mestre
Ele estimula os atores que assistem a darem opiniões. Eles usam sinônimos para repetir o diretor. A única crítica à cena surge também quando Antunes abre espaço para ela.
"Você, que vê como público, o que achou? Cansa?" "É cansativa, sim", responde o ator. "Você se sente como elas, com calor e vontade de sair. Nesse ponto, é irrepreensível", completa.
Antes da última cena, Antunes pede que esperem a tempestade passar, para que não atrapalhe Marília Simões e Emerson Danesi em "Bibelô na Estrada", uma conversa de uma prostituta com um fugitivo.
Ao final da peça, os dois se sentam, exaustos, para ouvir os colegas. Muitos choram, ninguém economiza elogios.
"A poesia que vejo nessa molecada não vejo em nenhum lugar. Quando classificam como "exercício", é uma ingenuidade de quem fala. Nós sabemos o que estamos fazendo", diz Antunes à Folha, após o ensaio.
"Eu procuro, com o "Prêt-à-Porter", restabelecer algumas coisas perdidas. Porque hoje [...] o que comove não é o que se tem a dizer, mas a eloqüência daquilo que se está fazendo.
Você pega uma retórica vazia e dá uma eloqüência que comove o público incauto. O teatro tem que voltar às origens."


PRÊT-À-PORTER 9
Quando:
sáb., às 18h30; de hoje a 23/2
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, 7º andar, tel. 3234-3000)
Quanto: R$ 2,50 a R$ 10


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