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comentário
Diretor lega uma década de revolução
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Prêt-à-Porter":
nesse rótulo há
talvez uma fina
auto-ironia, como se a
Maison Antunes Filho tivesse aberto uma pequena
sucursal nos fundos para
que os aprendizes pudessem ter um contato prático com um público mais
amplo. O fino biscoito que
fabricam oferecido na merenda escolar.
Uma pedagogia francesa, não só na utopia de "um
teatro elitista para todos"
de Villar, mas na lenta revolução de Jacques Copeau: o palco nu, tábua rasa, para que o ator reinvente a roda. É claro que
para isso é preciso um outro ator, não o ávido pela
fama, mas o obcecado por
sua autonomia de vôo, que
saiba ser dramaturgo e diretor de si mesmo, que saiba criticar o outro contornando vaidades.
Então são dez anos de
deriva para testar a bússola, um longo ensaio que se
abre às vezes ao público,
sem data de estréia. Experimentalismo prudente,
que não busca a fórmula
nova de laboratório, mas
uma lenta impregnação
"stanislavskiana".
Revolução? Talvez na
definição da física, uma
volta à posição inicial, do
teatro de atores. Nas primeiras audições, é preciso
ser dito, a arrogância muitas vezes punha tudo a
perder. Mas era uma causa
ganha: toda uma geração
de atores-criadores tomou
o poder, fazendo pipocar
uma nova dramaturgia no
Rio, Curitiba, Minas Gerais etc.
Do ninho de Antunes,
vários camicases despencaram, aos grupos, como a
Companhia da Mentira,
ou avulsos: Juliana Galdino encontrou sua voz no
texto de Roberto Alvim e
pisou firma com "Anátema"; Arieta Corrêa pode
compartilhar o canto de
cisne de Paulo Autran no
"Avarento". Luiz Paetöw,
dirigido por Márcio Aurélio, deu conta das difíceis
partituras de Gertrude
Stein, enquanto Susan Damasceno acaba de encarnar Hilda Hirst na "Obscena Senhora D".
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