São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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comentário

Diretor lega uma década de revolução

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"Prêt-à-Porter": nesse rótulo há talvez uma fina auto-ironia, como se a Maison Antunes Filho tivesse aberto uma pequena sucursal nos fundos para que os aprendizes pudessem ter um contato prático com um público mais amplo. O fino biscoito que fabricam oferecido na merenda escolar.
Uma pedagogia francesa, não só na utopia de "um teatro elitista para todos" de Villar, mas na lenta revolução de Jacques Copeau: o palco nu, tábua rasa, para que o ator reinvente a roda. É claro que para isso é preciso um outro ator, não o ávido pela fama, mas o obcecado por sua autonomia de vôo, que saiba ser dramaturgo e diretor de si mesmo, que saiba criticar o outro contornando vaidades.
Então são dez anos de deriva para testar a bússola, um longo ensaio que se abre às vezes ao público, sem data de estréia. Experimentalismo prudente, que não busca a fórmula nova de laboratório, mas uma lenta impregnação "stanislavskiana".
Revolução? Talvez na definição da física, uma volta à posição inicial, do teatro de atores. Nas primeiras audições, é preciso ser dito, a arrogância muitas vezes punha tudo a perder. Mas era uma causa ganha: toda uma geração de atores-criadores tomou o poder, fazendo pipocar uma nova dramaturgia no Rio, Curitiba, Minas Gerais etc.
Do ninho de Antunes, vários camicases despencaram, aos grupos, como a Companhia da Mentira, ou avulsos: Juliana Galdino encontrou sua voz no texto de Roberto Alvim e pisou firma com "Anátema"; Arieta Corrêa pode compartilhar o canto de cisne de Paulo Autran no "Avarento". Luiz Paetöw, dirigido por Márcio Aurélio, deu conta das difíceis partituras de Gertrude Stein, enquanto Susan Damasceno acaba de encarnar Hilda Hirst na "Obscena Senhora D".


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