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ARTES PLÁSTICAS
Exposições
investigam os
rumos das
artes visuais
JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
Cansaço e esvaziamento estão
no horizonte contemporâneo das
artes visuais. O programa de exposições deste ano do Itaú Cultural propõe uma investigação deste
excesso e desta babel que caracterizam a produção atual. O calendário começa hoje com a mostra
"Rumos Visuais", um mapeamento criterioso e exaustivo da
arte contemporânea no Brasil.
Segundo Ricardo Ribenboim,
diretor do instituto, este é um
bom momento para tratar mais
cientificamente do assunto e deter-se em reflexões mais profundas sobre a cena artística. É essa a
idéia por trás do eixo curatorial de
2000, chamado "Investigações".
"Queremos abarcar desde a investigação que o artista faz no
próprio trabalho até a investigação de curadores sobre o artista",
explica Ribenboim. A mostra é o
primeiro nível da investigação.
A ela se segue um programa de
workshops para promover a interlocução entre os 44 artistas que
têm obras expostas. "A reunião
dos artistas é uma prática que
vem se perdendo nas últimas três
décadas", justifica o diretor.
Em seguida, ocorre a segunda
exposição do projeto "Rumos Visuais", com 40 artistas, e outras
duas mostras. "O trabalho do Artista", em junho, vai explicitar o
"making-of" da criação artística.
O Itaú Cultural convidou cinco
críticos para apontar artistas que
alcançaram individualidade no
seu processo de pesquisa.
Arlindo Machado escolheu
Eduardo Kac e Carlos Fadon,
Márcio Doctors indicou Nuno
Ramos, Paulo Herkenhoff apontou Ernesto Neto, Lorenzo Mammi escolheu Iole de Freitas e Carmela Gross e Federico Morais indicou Cildo Meireles. "O Paulo
vai alinhavar o raciocínio desenvolvido por Ernesto a partir de referências à Lygia Clark e Hélio Oiticica", exemplifica.
A última mostra do eixo chama-se "A Gravura Brasileira" e está
programada para outubro. Nela,
o ateliê vai invadir o espaço expositivo. Ribenboim conta que a intenção era escolher uma técnica
para investigar e pela diversidade
que a gravura alcançou é que foi
eleita. Verdadeiro panorama, a
exposição vai mostrar de Goeldi
até a gravura digital.
Rumos Visuais
A primeira exposição é uma
proposta de mapeamento da produção brasileira contemporânea
que foge ao modelo passivo de
análise de portfólios. "Resolvemos sair e verificar o que acontecia fora", explica a coordenadora
do Núcleo de Artes Visuais do
instituto, Maria Eugênia Saturni.
Um grupo de 12 curadores foi a
campo e delimitou um primeiro
universo de 1.576 artistas. Destes,
300 foram pré-selecionados e os
três curadores-coordenadores
(Angélica de Moraes, Daniela
Bousso, Fernando Cocchiarale)
verificaram então quais eram os
trabalhos com maior índice de
contemporaneidade.
Assim chegou-se aos 84 artistas
que expõem no "Rumos Visuais".
O Itaú Cultural organizou 13 recortes curatoriais para espalhar
várias exposições pelo Brasil. Os
módulos têm itinerado, como
uma forma de devolver a iniciativa às diferentes regiões onde os
artistas foram "descobertos", de
acordo com Maria Eugênia.
São Paulo recebe só agora a exposição, mas tem a vantagem de
vê-la na íntegra. A primeira parte
está dividida em quatro núcleos
temáticos: "Pintura: Repertórios
Alternativos", "O Plano Ampliado", "Deslocamentos" e "Arte Política: Isto São Outros 500".
Nem no segmento dedicado à
pintura o visitante vai encontrar
trabalhos mais tradicionais ou palatáveis. O artista mineiro Luiz
Flávio Silva, por exemplo, cobriu
a parede reservada a ele com etiquetas de identificação de obras.
Em "Plano Ampliado", que verifica a afirmação do plano conceitual em obras que partem da
bidimensionalidade, há um artista, por exemplo, que desenha com
fita mágica. Vicente Matinez faz
dos pedaços de fita repetitivas
pinceladas, dialogando com a história da pintura.
Matinez é um colombiano que
foi atraído em 1978 pelo Brasil,
que era então a "capital da arquitetura", em sua opinião. Viveu em
Brasília até 85 e, após uma temporada em Chicago, voltou de vez.
De início, ele trabalhava com
desenhos, mas conta que começou a cansar-se da "idéia de criar
dentro de uma moldurinha" e
passou a explorar a relação do desenho com o espaço. As linhas começaram a sair do plano: ele desenhava com cordas. Depois passou
a rasgar as telas e expor recortes.
Um dia, observando marceneiros imprimirem a linha com giz
no chão para delimitar planos,
adotou o mesmo procedimento.
"Fazia desenhos para caminhar",
longas linhas impressas com cordas, com variações tonais. O último passo nessa trajetória foram
os desenhos com durex.
No andar térreo, está o núcleo
com maior número de artistas,
"Deslocamentos", tema que, na
arte contemporânea, tem a ver,
segundo a curadora Daniela
Bousso, com repensar o lugar da
arte. Os artistas ali reunidos operam deslocamentos de suporte,
de tema, de espaço e tempo.
Edouard Fraipont explora em
suas fotografias procedimentos
pictóricos. Adriana Varella apropria-se de lonas que têm marcas
de lugares (uma linha de trem,
por exemplo) e projeta sobre elas
imagens em movimento. Helene
Sacco insere a obra dentro de um
colchão, fazendo as pessoas deitarem-se para poder observá-la.
Exposição: Investigações Rumos Visuais
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149,
Bela Vista, tel. 0/xx/11/238-1700)
Quando: abertura hoje, às 12h30; ter. a
sex., das 10h às 21h; sáb., dom. e
feriados, das 10h às 19h. Até 26/3
Quanto: entrada franca
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