São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Exposições investigam os rumos das artes visuais

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha

Cansaço e esvaziamento estão no horizonte contemporâneo das artes visuais. O programa de exposições deste ano do Itaú Cultural propõe uma investigação deste excesso e desta babel que caracterizam a produção atual. O calendário começa hoje com a mostra "Rumos Visuais", um mapeamento criterioso e exaustivo da arte contemporânea no Brasil.
Segundo Ricardo Ribenboim, diretor do instituto, este é um bom momento para tratar mais cientificamente do assunto e deter-se em reflexões mais profundas sobre a cena artística. É essa a idéia por trás do eixo curatorial de 2000, chamado "Investigações".
"Queremos abarcar desde a investigação que o artista faz no próprio trabalho até a investigação de curadores sobre o artista", explica Ribenboim. A mostra é o primeiro nível da investigação.
A ela se segue um programa de workshops para promover a interlocução entre os 44 artistas que têm obras expostas. "A reunião dos artistas é uma prática que vem se perdendo nas últimas três décadas", justifica o diretor.
Em seguida, ocorre a segunda exposição do projeto "Rumos Visuais", com 40 artistas, e outras duas mostras. "O trabalho do Artista", em junho, vai explicitar o "making-of" da criação artística. O Itaú Cultural convidou cinco críticos para apontar artistas que alcançaram individualidade no seu processo de pesquisa.
Arlindo Machado escolheu Eduardo Kac e Carlos Fadon, Márcio Doctors indicou Nuno Ramos, Paulo Herkenhoff apontou Ernesto Neto, Lorenzo Mammi escolheu Iole de Freitas e Carmela Gross e Federico Morais indicou Cildo Meireles. "O Paulo vai alinhavar o raciocínio desenvolvido por Ernesto a partir de referências à Lygia Clark e Hélio Oiticica", exemplifica.
A última mostra do eixo chama-se "A Gravura Brasileira" e está programada para outubro. Nela, o ateliê vai invadir o espaço expositivo. Ribenboim conta que a intenção era escolher uma técnica para investigar e pela diversidade que a gravura alcançou é que foi eleita. Verdadeiro panorama, a exposição vai mostrar de Goeldi até a gravura digital.

Rumos Visuais
A primeira exposição é uma proposta de mapeamento da produção brasileira contemporânea que foge ao modelo passivo de análise de portfólios. "Resolvemos sair e verificar o que acontecia fora", explica a coordenadora do Núcleo de Artes Visuais do instituto, Maria Eugênia Saturni.
Um grupo de 12 curadores foi a campo e delimitou um primeiro universo de 1.576 artistas. Destes, 300 foram pré-selecionados e os três curadores-coordenadores (Angélica de Moraes, Daniela Bousso, Fernando Cocchiarale) verificaram então quais eram os trabalhos com maior índice de contemporaneidade.
Assim chegou-se aos 84 artistas que expõem no "Rumos Visuais". O Itaú Cultural organizou 13 recortes curatoriais para espalhar várias exposições pelo Brasil. Os módulos têm itinerado, como uma forma de devolver a iniciativa às diferentes regiões onde os artistas foram "descobertos", de acordo com Maria Eugênia.
São Paulo recebe só agora a exposição, mas tem a vantagem de vê-la na íntegra. A primeira parte está dividida em quatro núcleos temáticos: "Pintura: Repertórios Alternativos", "O Plano Ampliado", "Deslocamentos" e "Arte Política: Isto São Outros 500".
Nem no segmento dedicado à pintura o visitante vai encontrar trabalhos mais tradicionais ou palatáveis. O artista mineiro Luiz Flávio Silva, por exemplo, cobriu a parede reservada a ele com etiquetas de identificação de obras.
Em "Plano Ampliado", que verifica a afirmação do plano conceitual em obras que partem da bidimensionalidade, há um artista, por exemplo, que desenha com fita mágica. Vicente Matinez faz dos pedaços de fita repetitivas pinceladas, dialogando com a história da pintura.
Matinez é um colombiano que foi atraído em 1978 pelo Brasil, que era então a "capital da arquitetura", em sua opinião. Viveu em Brasília até 85 e, após uma temporada em Chicago, voltou de vez.
De início, ele trabalhava com desenhos, mas conta que começou a cansar-se da "idéia de criar dentro de uma moldurinha" e passou a explorar a relação do desenho com o espaço. As linhas começaram a sair do plano: ele desenhava com cordas. Depois passou a rasgar as telas e expor recortes.
Um dia, observando marceneiros imprimirem a linha com giz no chão para delimitar planos, adotou o mesmo procedimento. "Fazia desenhos para caminhar", longas linhas impressas com cordas, com variações tonais. O último passo nessa trajetória foram os desenhos com durex.
No andar térreo, está o núcleo com maior número de artistas, "Deslocamentos", tema que, na arte contemporânea, tem a ver, segundo a curadora Daniela Bousso, com repensar o lugar da arte. Os artistas ali reunidos operam deslocamentos de suporte, de tema, de espaço e tempo.
Edouard Fraipont explora em suas fotografias procedimentos pictóricos. Adriana Varella apropria-se de lonas que têm marcas de lugares (uma linha de trem, por exemplo) e projeta sobre elas imagens em movimento. Helene Sacco insere a obra dentro de um colchão, fazendo as pessoas deitarem-se para poder observá-la.


Exposição: Investigações Rumos Visuais Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, Bela Vista, tel. 0/xx/11/238-1700) Quando: abertura hoje, às 12h30; ter. a sex., das 10h às 21h; sáb., dom. e feriados, das 10h às 19h. Até 26/3 Quanto: entrada franca


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