São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2000


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Os subversivos são outros 500

free-lance para a Folha

Guarde estes nomes: Edson Barrus, Oriana Duarte e Marcelo Coutinho. Eles estão entre os artistas do núcleo "Arte Política: Isto São Outros 500", que apresenta os trabalhos mais ousados de toda a exposição.
Obras dos pernambucanos Oriana e Coutinho puderam ser apreciadas, recentemente, na mostra "Panorama da Arte Brasileira 99", do MAM, que, aliás, trazia também outros nomes ora presentes em "Rumos".
Oriana Duarte vai, finalmente, tomar sua sopa de pedras em São Paulo. O processo é o seguinte: para discutir a problemática da "coisa em si", a artista carrega pedras dos locais por onde passa e as mistura a pedras do local onde está. Com esses ingredientes, prepara uma sopa, que ela toma em suas performances para expressar a impossibilidade de apropriar-se do lugar, mostrar a ilusão da supremacia do objeto de arte.
A expressão "coisa em si" Oriana retirou do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que teorizou sobre a estética na obra "Crítica do Juízo". "Chega de Kant, que eu utilizo justamente para desafiar, porque o que existe é uma impossibilidade da fruição estética plena", afirma.
A performance de Oriana, que dura cerca de uma hora, vai ocorrer às 13h30 de hoje, na abertura de "Rumos Visuais".
Edson Barrus comparece com sua "Base Central Cão Mulato", obra embasada em uma formulação conceitual complexa: trata-se de um equipamento para produzir um vira-lata a partir de seis raças caninas puras com objetivo de servir de modelo para clonagem.
"O vira-lata é o símbolo da "mulatação", ou seja, da diluição das categorias e do esfacelamento da idéia de pureza", afirma o artista pernambucano residente no Rio de Janeiro. Barrus tem formação em zootecnia e mestrado em artes plásticas e conjuga estes dois universos em sua obra.
Para ele, a genética está mexendo com questões éticas importantes e a abordagem por uma perspectiva insuspeita, como a arte, possibilita maior reflexão sobre o assunto porque surpreende.
"O que eu estou propondo, na verdade, é a clonagem de um organismo inútil, que é o mais desqualificado dos cachorros, contra o discurso nazi-fascista, ou todo discurso autoritário", explica.
Mas o núcleo "Outros 500" não é composto apenas de trabalhos cerebrais. Mesclando o conteúdo político a preocupações plásticas, a instalação de Caio Reisewitz versa sobre a questão da autoridade. O artista dispõe em uma parede ampliações fotográficas de fardas policiais que destacam a bandeira do Estado de São Paulo.
Reisewitz trabalha com fotografias apropriadas (fotografa imagens de jornal) e reais. Nestas, interfere riscando o negativo ou sobrepondo com tarjas os nomes que figuram nas placas de condecoração que fotografa. "Não quero julgar as pessoas, por isso oculto os nomes. A idéia é questionar o que está escrito", afirma. (JMo)


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