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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Evento explora versatilidade do violão

Divulgação
O violonista Fábio Zanon, que se apresenta sábado no Sesc


ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO

Maldito no mundo da música erudita, o violão nunca se intimidou. Sua versatilidade sempre lhe garantiu um lugar, seja acompanhando humildemente a voz do cantor popular, improvisando na roda de choro ou ainda brilhando à frente da orquestra numa sala de concerto.
É principalmente para apresentar essas e outras facetas do instrumento que serve uma mostra panorâmica como "Violões -Tendências e Tradições", cuja série de recitais e shows começa hoje no Sesc Pompéia.
"O violão vai bem, os músicos é que vão mal", cutuca Fábio Zanon, 37, uma das principais atrações do evento. Brasileiro radicado em Londres, o violonista hoje é referência para os concertistas. Depois de vencer dois dos principais concursos de violão na sequência em 96 -o Francisco Tárrega, na Espanha, e o da Fundação Americana de Violão (GFA), nos EUA-, ele tomou o mundo.
"As pessoas reclamam que não há repertório, mas não tocam o que existe", diz justificando suas escolhas pelos compositores nacionais. "Toco os brasileiros porque são bons." Conhecido pela gravação integral antológica dos estudos de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) para violão, Zanon promete esta semana interpretar dois dos estudos de Francisco Mignone (1897-1986) para o instrumento.
No programa, ainda estão duas sonatas de Domenico Scarlatti (1685-1757), compositor cuja obra acaba de ser gravada pelo concertista em disco ainda inédito e com transcrições elogiadas (por não ter sido escrita para o violão, o músico adapta a partitura da composição para as possibilidades técnicas do instrumento).
Depois de Scarlatti, seguem as notas de Bach (1685-1750). "Ele não pode faltar. Acredito que em dez anos eu esteja pronto para gravá-lo", diz dando pistas do trabalho artesanal exigido pelo violão erudito.
Num meio termo entre o popular e a seriedade erudita clássica, Paulo Porto Alegre, 49, optou por um recital dedicado às músicas espanholas escritas originalmente para o violão. Numa abordagem histórica, seu programa lembra que a maneira de tocar em seis cordas mudou a forma de compor para a então chamada guitarra espanhola, que substituía as cinco cordas duplas do período barroco na metade do século 18.
Porto Alegre remonta ao período clássico do violão espanhol com Fernando Sor, ao romântico com Francisco Tárrega e chega ao século 20 com Fernando Torroba.
Professor na Escola Municipal de Música e integrante do grupo Núcleo Hespérides, o violonista já tocou com nomes importantes da música, como Raphael Rabello e Sebastião Tapajós.
"Foram meu anos de estudo da música popular brasileira para violão desde João Pernambuco que me permitiram perceber as influências espanholas", diz.
Mais popular, embora sem ser purista, Marco Pereira promete tocar Ary Barroso, Garoto e composições próprias. Seguindo essa linha que se equilibra entre o erudito e o popular, estão o violonista Paulo Bellinati e a cantora Mônica Salmaso. No já clássico show, a dupla faz uma apresentação particular dos afro-sambas de Baden Powell (1937-2000) e marca o esperado relançamento do disco "Afro-Sambas", agora pela gravadora Pau Brasil/Eldorado.
Representantes de uma outra forma de explorar os recursos técnicos do instrumento, extrapolando o limite das seis cordas, estão os conjuntos de violão. No evento, eles estão representados pelo Quaternaglia, o Duo Bartoloni, o Duo João Luiz e Douglas Lora e o Violão Câmara Trio.
Entre as atrações internacionais, estão o alemão Hubert Käppel, que toca hoje um programa que começa com prelúdios para violão de Villa-Lobos, e o canadense Alvise Migotto.
Além dessas apresentações, as idéias violonísticas circulam pelo festival por meio de uma série de palestras com nomes importantes do instrumento, como Henrique Pinto, e pela exibição de vídeos com gravações históricas.


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