São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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26ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP

"INVENCÍVEL"

Centrada em gigante mitológico, produção tem falhas, mas cai bem na filmografia do diretor alemão

Roteiro e elenco duelam em novo Herzog

Divulgação
Tim Roth em "Invencível", filme que marca a volta de Werner Herzog à ficção e que é exibido hoje


TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Werner Herzog , de volta à ficção, diz-se inspirado numa história real, mas o personagem central, o gigante Zishe Breitbart (Jouka Ahola), é uma figura mítica da tradição hebraica.
De fato, é como uma fábula que Herzog nos narra a história de "Invencível". Após derrotar Hércules, o "homem mais forte do mundo", num espetáculo circense, para pagar uma dívida, Breitbart, um ferreiro judeu polonês, é aliciado por um caça-talentos alemão. Vai parar no "ovo da serpente" da Berlim dos anos 30, onde se torna uma das atrações do "Palácio do Ocultismo", criado pelo ilusionista Jan Hanussen (Tim Roth), personagem real, este sim, que já foi tema de um filme do diretor húngaro Istvan Szabo ("Hanussen", 1988).
No espetáculo de Hanussen, o ingênuo grandalhão judeu é obrigado a interpretar um herói ariano do imaginário protonazista. Ao contrário do de Szabo, o Hanussen de Herzog revela-se um farsante oportunista, como tantos que ascenderam com o hitlerismo. O personagem pertence, na obra de Herzog, à linhagem de Aguirre e de Fitzcarraldo, a dos "conquistadores do impossível".
Já Breitbart pertence à linhagem de Stroszeck e Kaspar Hauser. Entregues a um sonho, os "conquistadores do impossível", cuja megalomania delirante descende do hitlerismo, estão sempre almejando o sublime, mas, em Herzog, só os idiotas o alcançam. É o ingênuo Breitbart que adquire, em "Invencível", a verdadeira vidência.
O roteiro do filme, como se vê, cai como uma luva na filmografia de Herzog. Sua realização, infelizmente, não está à altura: a direção corre muito frouxa e o elenco central não ajuda: Ahola, atleta vencedor do prêmio de homem mais forte do mundo, pode não chegar ao sublime como Breitbart, mas, perto da afetada grandiloquência dramática de Roth, um canastrão consumado, sua inexperiência é um verdadeiro alívio.


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