São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011 |
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Dama do concretismo ganha retrospectiva Judith Lauand, parte do movimento concreto de SP, leva sua produção geométrica e figuração pop ao MAM Estão na mostra telas que realizou no grupo Ruptura, seus quadros com poesia concreta e musas de sua fase pop
SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO Era natural que depois de experimentos geométricos de alto rigor surgissem mulheres fortes, imunes à força de seus homens. Pelo menos na cabeça de Judith Lauand, artista que ganhou a alcunha de dama do concretismo. Isso porque foi mesmo a única mulher entre os artistas do grupo Ruptura, que fundou no começo dos anos 1950 o movimento concreto juntando nomes como Geraldo de Barros, Lothar Charoux e Waldemar Cordeiro. "Ele viu meus quadros e me pediu para expor com eles", diz Lauand sobre Cordeiro, em entrevista à Folha. "Quando convivemos com um artista, a gente se deixa levar pelo pensamento dele." Mas não para sempre. Na retrospectiva que a artista abre hoje no Museu de Arte Moderna, fica claro que ela seguiu à risca os cânones de um estilo sem descartar grande experimentação pessoal. Enquanto suas primeiras telas concretistas demonstram o rigor industrial que o movimento tentou legar às artes visuais, quadros que vieram depois atestam sua preocupação maior com a linha, o uso de materiais inusitados e uma mudança radical de estilo nos anos 1960. Foi nessa década que Lauand dissolveu um tanto os contornos exatos de seus campos de cor e fez até composições psicodélicas, trabalhos que lembram estampas de tecido e telas com cimento, betume, palha e pregos. Logo depois, a artista assumiu a estética pop numa série de quadros figurativos. Todos mostram mulheres no comando, fumando, altivas, encarando o espectador. Seus contornos têm a mesma potência cromática dos campos abstratos do início da carreira, mas aqui parecem reiterar um traço feminino por trás da rigidez do movimento e sugerem uma mulher combativa para os tempos da ditadura. "Eu estava esgotada do trabalho anterior", lembra a artista. "Procurava fazer uma coisa nova, foi algo natural." Mais explícitos, outros trabalhos da mesma época fundem manchas de cor e poesia concreta. São libelos antiguerra, manifestos em defesa da criação artística e acenos ao design construídos no momento mais agressivo da repressão ideológica no país. Passada a ditadura, Lauand retoma certo geometrismo, como se encerrasse o ciclo da produção que fez ao lado de outros concretistas. Mas seus quadrados e triângulos não voltam com a mesma exatidão. Estão a serviço de composições menos previsíveis, mais estranhas, como se o mergulho da artista na figuração pop e o arrocho do país no regime militar deixassem certas sequelas. JUDITH LAUAND QUANDO abertura hoje; de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 3/4 ONDE MAM (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 5085-1300) QUANTO grátis Próximo Texto: Cinesesc expõe obras do fotógrafo de Visconti Índice | Comunicar Erros |
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