São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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CINEMA/"MAIS UMA VEZ AMOR"

Filme de Svartman é frouxo no casamento entre amor e humor

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A comédia romântica é um gênero que exige certa habilidade no manuseio das químicas cinematográficas, haja vista que só Howard Hawks, Domingos Oliveira e meia dúzia de outros poucos (todos geniais) não caíram na banalidade nesse campo. Rosane Svartman não está nesse clube seleto, e "Mais uma Vez Amor", ainda que longe da indignidade de um "Avassaladoras", sofre de uma grande anemia.
O que é brutal aqui, porque estamos num estilo de cinema que requer convívio entre forças opostas, da gravidade do louco amor à descontração cômica -e é por isso que esses filmes seguem a bula dos opostos que se atraem. Svartman vai por esse caminho, com a espevitada Lia (Juliana Paes) e o certinho Rodrigo (Dan Stulbach) amando-se e encontrando-se esporadicamente por mais de duas décadas.
O filme começa no presente, com Rodrigo, pai e frustrado com seu casamento com Clara (Christine Fernandes), e uma melancólica Lia, mãe solteira e um tanto cética sobre relacionamentos.
A partir daí o filme alterna passado e presente, mostrando no vaivém (um tanto engessado) como o par se conheceu em 1980, seus encontros, desencontros etc. Há também uma praia rochosa, na qual eles fizeram juras de amor, terreno de lembranças de Rodrigo e Lia, bastião do seu eterno amor.
Claro, uma imagem clichê, mas que poderia ser forte. Não é, graças à frouxidão que há no filme, do humor à paixão anêmica do casal. Espantoso, porque o roteiro, adaptado da peça homônima, é assinado por Carlos Lombardi.
Talvez o erro esteja na câmera de Rosane Svartman, que parece não olhar, apenas ouvir. Tímida, ela visita os espaços abrindo o enquadramento, mas descrê na forma das coisas, e sua mira vai para os diálogos dos personagens.
Única coisa que resta, essa dramaturgia apenas guia a banalidade de seus personagens, que parecem fora dos seus corpos, falando e agindo mecanicamente. Num gênero de arquitetura complexa, que pede vigor na fúria romântica e humorística, a pastosidade de "Mais uma Vez Amor" é a pura negação ao acerto de um "Todas as Mulheres do Mundo", por exemplo.


Mais uma Vez Amor
 
Direção: Rosane Svartman
Produção: Brasil, 2005
Com: Juliana Paes, Dan Stulbach
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Metrô Santa Cruz, Penha, Interlagos e circuito


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