São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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ARTES

Neoconcretista carioca apresenta experimentos com novos materiais em exposição em cartaz na galeria Fortes Vilaça

Neto recria o organismo com bolas e tecido

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ainda atrelado a formas orgânicas que surgem a partir do tensionamento de tecidos e de composições vetoriais penetráveis de fazer inveja a qualquer arquiteto, Ernesto Neto assimila novos materiais e mostra, a partir de hoje na galeria Fortes Vilaça, os últimos experimentos que deram origem à exposição "Agora Bolas".
O princípio empregado ainda é o mesmo de outros trabalhos do neoconcretista carioca, que, só neste ano, vai expor nas galerias Yvon Lambert (Paris), Tomio Koyama (Tóquio), Koyanagi (Tóquio), no Freud Museum (Viena) e no Domaine de Kerguéhennec Centre D'Art Contemporain (Paris). Para erguer "Ora Bolas!", obra que ocupa quase todo o volume da sala principal da galeria, Neto escolhe pontos no teto onde são fixadas as partes de um tecido que, esticado, dá origem a mais uma das "paisagens internas de um organismo vivo".
"É uma composição racional? Sim, é. Eu leio muita coisa sobre mecânica, física, astronomia, biologia etc. Mas a racionalidade aqui é só uma ferramenta, pois dela saem formas completamente intuitivas", diz. "O resultado são essas imagens que trazem referências de paisagens que não podemos ver a olho nu, por pertencerem a um mundo microscópico ou macroscópico", completa.
As estruturas das obras de Neto, que antes eram montadas pelo uso do tule de lycra, um tecido elástico parecido com o pano de fazer meia-calça, agora exploram as possibilidades de fios de algodão entrelaçados. Em "Ora Bolas!", o peso de esferas (dessas usadas em piscinas de parques infantis) é o que puxa a rede pregada ao teto em direção ao chão. Quem quiser pode entrar e nadar. Dá até pra mergulhar e ficar completamente submerso.
No mezanino, Neto mostra duas obras de chão que também usam rede preenchida por bolinhas. "As esferas tendem a se esparramar pelo piso, mas o tecido não permite, e daí surge essa forma celular, de ameba, de bicho", explica ele. E, na parede do mesmo espaço, o artista pendura estruturas também de algodão esticado a partir de um núcleo.
O uso das esferas e mesmo as cores escolhidas (verde para as bolinhas e rosa para o tecido) aproximam os novos trabalhos de um universo mais pop. "A palavra bola [do título "Agora Bolas'] lembra alguma coisa que fica entre a palavra "esfera", mais usada pela ciência, e a figura do Mickey", sintetiza Neto.


Agora Bolas
Artista:
Ernesto Neto
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h
Onde: Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066)
Quanto: entrada gratuita


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