São Paulo, sábado, 20 de maio de 2000


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Petrin leva platéia a se enxergar em "Última Gravação"

DA REPORTAGEM LOCAL

No final de "A Última Gravação de Krapp", com o público já deixando a sala, uma porta lateral se abriu e foi possível ver Antônio Petrin caminhando curvado para o camarim, no corredor, sozinho. Mais parecia uma imagem de Krapp, na peça.
"A Última Gravação", escrita em 58 por Samuel Beckett para compor uma encenação com "Fim de Jogo", também dele, traz o mesmo sentimento de um fim de jogo, de olhar para trás, sem revolta, para a paixão existencial perdida. Krapp é um velho que ouve uma gravação que fez 30 anos antes, quando, aos 39, fala de ter ouvido outra fita que gravou, talvez dez, 12 anos antes.
É dada como uma peça autobiográfica, Beckett vendo o amor perdido de uma prima irlandesa, morta muito jovem. Como Hamm em "Fim de Jogo", Krapp nada tem à sua volta, só escombros; quando tenta gravar nova fita, nada tem a falar, desiste e volta a ouvir a "última gravação", que termina dizendo (tradução minha): "Talvez meus últimos anos tenham passado. Quando havia uma chance de felicidade. Mas eu não ia querê-los de volta. Não com o fogo que há em mim agora. Não, eu não ia querê-los de volta."
Em todos os momentos, do mais jovem Krapp ao mais velho, este mais flagrante, a bravata tem um certo tom falso. A solidão, a imagem da morte, a constante nostalgia da existência: elas estão presentes do início à "última gravação".
Não se poderia imaginar texto mais adequado, perfeito, para o ótimo ator Antônio Petrin marcar seus 35 anos de palco. Em cena, até fora dela, ele é Krapp em todas as suas idades. Entende-se, com sua interpretação, na encenação mínima de Francisco Medeiros, porque Harold Bloom põe "A Última Gravação" como uma das três peças beckettianas do "cânone ocidental", ao lado de "Fim de Jogo" e "Godot". (NS)



Peça: A Última Gravação de Krapp
     
Quando: qui. e sex., às 21h30; sáb., às 22h; dom., às 20h
Onde: TBC - sala Arte (r. Major Diogo, 315, tel. 3115-4622)
Quanto: R$ 20


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