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Petrin leva platéia a se enxergar em "Última Gravação"
DA REPORTAGEM LOCAL
No final de "A Última Gravação
de Krapp", com o público já deixando a sala, uma porta lateral se
abriu e foi possível ver Antônio
Petrin caminhando curvado para
o camarim, no corredor, sozinho.
Mais parecia uma imagem de
Krapp, na peça.
"A Última Gravação", escrita
em 58 por Samuel Beckett para
compor uma encenação com
"Fim de Jogo", também dele, traz
o mesmo sentimento de um fim
de jogo, de olhar para trás, sem revolta, para a paixão existencial
perdida. Krapp é um velho que
ouve uma gravação que fez 30
anos antes, quando, aos 39, fala de
ter ouvido outra fita que gravou,
talvez dez, 12 anos antes.
É dada como uma peça autobiográfica, Beckett vendo o amor
perdido de uma prima irlandesa,
morta muito jovem. Como
Hamm em "Fim de Jogo", Krapp
nada tem à sua volta, só escombros; quando tenta gravar nova fita, nada tem a falar, desiste e volta
a ouvir a "última gravação", que
termina dizendo (tradução minha): "Talvez meus últimos anos
tenham passado. Quando havia
uma chance de felicidade. Mas eu
não ia querê-los de volta. Não
com o fogo que há em mim agora.
Não, eu não ia querê-los de volta."
Em todos os momentos, do
mais jovem Krapp ao mais velho,
este mais flagrante, a bravata tem
um certo tom falso. A solidão, a
imagem da morte, a constante
nostalgia da existência: elas estão
presentes do início à "última gravação".
Não se poderia imaginar texto
mais adequado, perfeito, para o
ótimo ator Antônio Petrin marcar
seus 35 anos de palco. Em cena,
até fora dela, ele é Krapp em todas
as suas idades. Entende-se, com
sua interpretação, na encenação
mínima de Francisco Medeiros,
porque Harold Bloom põe "A Última Gravação" como uma das
três peças beckettianas do "cânone ocidental", ao lado de "Fim de
Jogo" e "Godot".
(NS)
Peça: A Última Gravação de Krapp
Quando: qui. e sex., às 21h30; sáb., às 22h; dom., às 20h
Onde: TBC - sala Arte (r. Major Diogo, 315, tel. 3115-4622)
Quanto: R$ 20
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