Peça de Sérgio Roveri é montada com "A Noite de Aquário"

Jefferson Pancieri/Divulgação

Leonardo Miggiorin e Clara Carvalho em `Ensaio para um...´

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem bilhete, bate-boca ou alteração de comportamento, um jovem de 22 anos sobe ao quarto numa manhã de segunda para "buscar alguma coisa". Se mata. Por sete anos, a mãe percorrerá todas as fases do luto até permitir-se sorrir.
A pequena história de um rapaz com "vocação para a morte" -tomando emprestada a expressão de Lygia Fagundes Telles no conto "Suicídio na Granja"- é o mote de "Ensaio para um Adeus Inesperado". A peça inédita de Sérgio Roveri estreia hoje, no programa duplo "Dueto da Solidão", completado por "A Noite do Aquário" (2007), também dele. Ambas peças são dirigidas por Sérgio Ferrara.
"Entendo esse personagem como alguém que recusa o dom da vida, exerce um direito. Não nasceu para isso", diz o autor.
"É um assunto antigo na minha vida. Servi ao Exército, onde há casos de jovens que se matam. E a primeira vez que fui ver um morto, aos quatro anos, era uma mulher que tinha ateado fogo ao corpo. Fiquei 15 dias sem dormir. É uma coisa que me incomoda, essa despedida breve. Queria um tempo para digerir esse assunto, queria expurgar esse negócio", explica.
Em cena, Clara Carvalho e Leonardo Miggiorin intercalam monólogos. Em registro contido, ela dá notícia de sua dor aos poucos apaziguada. Ele lembra, vibrante, cenas marcantes da infância. Mas murcha ao se deparar com a imensidão de tempo a preencher na agenda. Não quer tanta vida.
Quem rejeita o curso da história em "A Noite do Aquário" é a mãe (novamente vivida por Clara). Depois de perder o marido e o primogênito para a cidade grande, enlouquece ao saber que o caçula pode também estar com as malas prontas. "Nas peças, são dois movimentos em relação à solidão: um rumo à superação; o outro, à destruição", resume Ferrara.