São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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CINEMA

Mostra no CCSP apresenta sete filmes japoneses que têm os guerreiros como tema, entre eles, a obra-prima "Harakiri"

Arte dos samurais é resgatada em ciclo

Divulgação
Cena de "Harakiri", de Masaki Kobayashi, que será exibido hoje


INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Cada vez menos conhecida, a arte dos samurais difere das artes marciais mais difundidas hoje em dia pelo cinema chinês. Em vez de lutas longas como balés, o samurai quase sempre resolve seu problema com um movimento ágil e um gesto seco -que costuma cortar o adversário ao meio.
Uma chance para reencontrar esta arte dos guerreiros está na mostra "Na Trilha dos Samurais", que a Fundação Japão e o Centro Cultural São Paulo promovem de hoje até o dia 25.
O filme de samurai equivale mais ou menos ao faroeste para o Ocidente, e foi um gênero popular no Japão, cultivado, entre outros, por cineastas como Akira Kurosawa.
Entre os filmes propostos neste ciclo, o mais ilustre é certamente "Harakiri", de Masaki Kobayashi. O harakiri é o suicídio ritual, praticado com a própria espada, pela qual o guerreiro faz o resgate de sua honra.
No filme de Kobayashi, um samurai que, empobrecido pela paz, vende a sua espada, é forçado a praticar o haraquiri com uma espada de bambu.
Nesta obra-prima de 1962, Kobayashi ataca o militarismo -aspecto central em vários dos filmes do autor de "Guerra e Humanidade"- e os códigos de honra, instituição tão caracteristicamente nipônica, partindo de um preto-e-branco muito contrastado e de uma secura que torna ainda mais claro o sentimento de violência implícito no mundo descrito.

Feudo
Embora recente (é de 2000), "Doraheita" deve-se a um realizador veteraníssimo: Kon Ichikawa. Seu argumento, escrito por dois gigantes do cinema japonês, Kurosawa e Heisuke Kinoshita, diz respeito a um administrador contratado para dar fim aos problemas de corrupção em um pequeno feudo.
Ele espalha a fama de vagabundo e mulherengo, para melhor se colocar em oposição aos poderosos locais. Depois, parte para investigar o que se passa efetivamente na cidade.
Fiel à tradição, o filme recusa efeitos e pirotecnias, embora não se ombreie com os grandes trabalhos já realizados no gênero.
"Crepúsculo Seibei" foi realizado em 2002 por Yoji Yamada e concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Estamos aqui no crepúsculo dos samurais, meados do século 19, e a personagem central é um samurai pobre que, para sustentar a família, trabalha no feudo e, à noite, dedica-se ao artesanato.
Uma história, a propósito, para Yoji Yamada, que ficou famoso por ter dirigido a mais longa série de filmes do cinema mundial, "É Triste Ser Homem", com seus 48 episódios.

Nouvelle vague nipônica
Yamada é um realizador contemporâneo da chamada "nouvelle vague" japonesa (que surge por volta dos anos 60 e se rebela entre outras contra a hierarquia dos estúdios), mas nunca foi próximo dela. A série "É Triste Ser Homem" lhe valeu uma justa reputação de artesão sólido e dedicado a filmes contemporâneos e não a samurais, que é um gênero histórico.
"Depois da Chuva", de 1999, tem a curiosidade (e provavelmente um pouco mais do que isso) de ter sido herdado por seu diretor, Takashi Koiumi, de Akira Kurosawa, que escreveu o roteiro, mas morreu sem filmar a história de Misawa, samurai desempregado que, enquanto busca emprego, acaba lutando para ter dinheiro para dar de comer às vítimas de uma enchente.
Ainda há no ciclo "The Sleepy Eyes of Death - The Swordsman and the Pirate". Este filme de 1965 é o único do ciclo a ser apresentado com legendas em inglês (todos os demais são legendados em português), de Kenji Misumi, famoso como realizador de superproduções dos anos 60.

Decadência
No conjunto, este ciclo proposto em conjunto pelo Centro Cultural São Paulo e pela Fundação Japão busca trazer uma amostra do filme de samurai desde uma concepção clássica até o momento contemporâneo.
Este é de decadência, tanto do filme de samurai como do cinema japonês em geral, e não se deve esperar o brilho das antigas produções, mas, em todo o caso, uma evocação dessa era por realizadores que, de um modo ou de outro, fizeram parte dela e preservam a essência desse gênero extremamente rico.

NA TRILHA DOS SAMURAIS. Mostra com sete filmes japoneses em parceria entre o Centro Cultural São Paulo e a Fundação Japão. Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, região central, tel. 3277-3611 r. 279). Quando: de hoje até 25/7. Quanto: entrada franca (retirar ingressos com 1h de antecedência).


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