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Crítica/teatro/"Západ - A Tragédia do Poder"
Balagan falha em longo exercício experimental
SÉRGIO SÁLVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Depois de longos anos
com um repertório
constrangedor, o Tusp
começa a dar mostras de querer
cumprir sua vocação: um teatro
experimental, embasado pela
academia. Foi para isso que ele
foi concebido em seus primórdios, quando Décio de Almeida
Prado apenas sonhava com o
Teatro Brasileiro de Comédia, e
a luta não só continua, como é
cada vez mais urgente.
Desta forma, a estréia de "Západ", no Tusp, é uma boa notícia por si só. Maria Thaís, diretora do grupo Balagan, é uma
pesquisadora que consagrou
com "Tauromaquia", sua montagem anterior, seus estudos
sobre Meierhold, o encenador
russo muito discutido, mas
pouco praticado em profundidade. A montagem atual propõe um salto ainda maior, saindo do tema regional para um
espetáculo que já nasce sintonizado com o que anda se buscando nos palcos do mundo.
Assim, o tema é amplo: o
exercício do poder visto enquanto aventura individual.
Ivan, o Terrível, do lado oriental, em paralelo com Elisabeth
1ª, representando o Ocidente,
aparecem em três etapas: no
desejo da juventude, na ferocidade do ápice e na melancolia
da decadência.
Nas três peças, apresentadas
ora separadas, ora juntas, dependendo do dia, evita-se a
idealização hagiográfica dos
poderosos pela utilização do
bufão como narrador. Pondo
sempre a história escatologicamente com os pés nos chão,
sem perder o lirismo dos lunáticos, os biografados são apresentados como monstros de feira, e cada ator, alternando
papéis menores ou maiores de
acordo com as peças, tem a
oportunidade de exercer o grotesco e o sublime.
Trabalhando em paralelo,
sem perder seu estilo próprio,
os dramaturgos puderam criar,
mais do que histórias que se
completam, tema e variações,
como se diz em música erudita
-aventura que a luz, o cenário
ágil e despojado e a música feita
em cena servem bem.
E, no entanto, exatamente
em respeito à seriedade da empreitada, é preciso testemunhar aqui que "Západ" não é um espetáculo bem-sucedido.
O "primeiro movimento", "De
Neve e Neblina", de Alessandro
Toller, soa como longos monólogos sobrepostos perdidos em
solenidade, uma longa introdução a algo que só surgirá na segunda peça, imagina-se. Mas
não: a "Peleja..." anunciada saborosamente como um cordel,
por Newton Moreno, embala
tanto em auto-ironia que acaba
chegando a lugar nenhum.
"Dies Irae", do mestre Luis Alberto de Abreu, é quem concilia
melhor sagrado e profano, épico e lírico. Seria tentador aconselhar o público médio a ir ver
apenas esta peça: mas ela está
tão organicamente ligada às
outras, como um arremate de
marcas e conceitos, que talvez
não faça sentido sozinha.
Tão altas são as premissas de
"Západ", que talvez ela tenha se
condenado a ser uma peça para
especialistas. Apesar de embasada no popular, mesmo uma
atriz carismática como Beatriz
Sayad não consegue superar a
impressão de um exercício brilhante, mas longo demais. São
os riscos do experimental: longa vida a eles.
ZÁPAD - A TRAGÉDIA DO PODER
Quando: Movimentos 1, 2 e 3, qua. e
dom.: 20h. 180 min. Movimento 1,
qui.: 21h. 60 min. Movimento 2,
sex.: 21h. 60 min. Movimento 3,
sáb.: 21h. 60 min. Até 11/2.
Onde: Tusp (r. Maria Antônia, 294,
Vila Buarque, tel. 3259-8342)
Quanto: R$ 10 (qui. a sáb.) e R$ 20
(qua. e dom.).
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