São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

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Crítica/teatro/"Západ - A Tragédia do Poder"

Balagan falha em longo exercício experimental

SÉRGIO SÁLVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Depois de longos anos com um repertório constrangedor, o Tusp começa a dar mostras de querer cumprir sua vocação: um teatro experimental, embasado pela academia. Foi para isso que ele foi concebido em seus primórdios, quando Décio de Almeida Prado apenas sonhava com o Teatro Brasileiro de Comédia, e a luta não só continua, como é cada vez mais urgente.
Desta forma, a estréia de "Západ", no Tusp, é uma boa notícia por si só. Maria Thaís, diretora do grupo Balagan, é uma pesquisadora que consagrou com "Tauromaquia", sua montagem anterior, seus estudos sobre Meierhold, o encenador russo muito discutido, mas pouco praticado em profundidade. A montagem atual propõe um salto ainda maior, saindo do tema regional para um espetáculo que já nasce sintonizado com o que anda se buscando nos palcos do mundo.
Assim, o tema é amplo: o exercício do poder visto enquanto aventura individual. Ivan, o Terrível, do lado oriental, em paralelo com Elisabeth 1ª, representando o Ocidente, aparecem em três etapas: no desejo da juventude, na ferocidade do ápice e na melancolia da decadência.
Nas três peças, apresentadas ora separadas, ora juntas, dependendo do dia, evita-se a idealização hagiográfica dos poderosos pela utilização do bufão como narrador. Pondo sempre a história escatologicamente com os pés nos chão, sem perder o lirismo dos lunáticos, os biografados são apresentados como monstros de feira, e cada ator, alternando papéis menores ou maiores de acordo com as peças, tem a oportunidade de exercer o grotesco e o sublime.
Trabalhando em paralelo, sem perder seu estilo próprio, os dramaturgos puderam criar, mais do que histórias que se completam, tema e variações, como se diz em música erudita -aventura que a luz, o cenário ágil e despojado e a música feita em cena servem bem.
E, no entanto, exatamente em respeito à seriedade da empreitada, é preciso testemunhar aqui que "Západ" não é um espetáculo bem-sucedido.
O "primeiro movimento", "De Neve e Neblina", de Alessandro Toller, soa como longos monólogos sobrepostos perdidos em solenidade, uma longa introdução a algo que só surgirá na segunda peça, imagina-se. Mas não: a "Peleja..." anunciada saborosamente como um cordel, por Newton Moreno, embala tanto em auto-ironia que acaba chegando a lugar nenhum.
"Dies Irae", do mestre Luis Alberto de Abreu, é quem concilia melhor sagrado e profano, épico e lírico. Seria tentador aconselhar o público médio a ir ver apenas esta peça: mas ela está tão organicamente ligada às outras, como um arremate de marcas e conceitos, que talvez não faça sentido sozinha.
Tão altas são as premissas de "Západ", que talvez ela tenha se condenado a ser uma peça para especialistas. Apesar de embasada no popular, mesmo uma atriz carismática como Beatriz Sayad não consegue superar a impressão de um exercício brilhante, mas longo demais. São os riscos do experimental: longa vida a eles.


ZÁPAD - A TRAGÉDIA DO PODER   
Quando:
Movimentos 1, 2 e 3, qua. e dom.: 20h. 180 min. Movimento 1, qui.: 21h. 60 min. Movimento 2, sex.: 21h. 60 min. Movimento 3, sáb.: 21h. 60 min. Até 11/2.
Onde: Tusp (r. Maria Antônia, 294, Vila Buarque, tel. 3259-8342)
Quanto: R$ 10 (qui. a sáb.) e R$ 20 (qua. e dom.).


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