São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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DonaZica consolida vaga na MPB

Banda, que faz parte de momento de renovação da música brasileira, toca no Auditório Ibirapuera

Zélia Duncan, Arrigo Barnabé, Rappin" Hood e Arnaldo Antunes são alguns dos artistas que farão participações especiais


Julia Moraes/Folha Imagem
Integrantes da banda DonaZica; grupo encabeçado pela filha de Itamar Assumpção tem Tom Zé e a vanguarda paulistana como duas de suas principais influências

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Muito se fala nos últimos anos de uma certa renovação da música brasileira. Artistas como Cidadão Instigado, Céu e +2 são elogiados quase unanimemente e conquistam, aos poucos, seus espaços e públicos. No meio disso tudo, um pouco à parte, um pouco dentro dessa movimentação, está o grupo DonaZica -mostrando sob uma ótica particular o papel de São Paulo nesse momento histórico e fazendo parte de uma nova tradição à sua própria maneira.
Com o repertório de seus dois discos (lançados em 2003 e 2005) nas costas, a banda protagoniza neste final de semana espécie de cristalização de sua importância, ao fazer três apresentações no Auditório Ibirapuera, ao lado de convidados como Jorge Mautner e Arnaldo Antunes (veja ao lado).
"É uma coisa delicada falar em "nova MPB" ou algo assim", ressalva Iara Rennó, uma das compositoras e cantoras do DonaZica. "A gente não tem nenhuma pretensão de reinventar ou resgatar a música brasileira. Sempre tem muita coisa interessante acontecendo ao mesmo tempo, não vou falar que estamos renovando a MPB. Mas a gente cresceu ouvindo música de uma certa densidade artística e se preocupa em dar uma seqüência a isso. Sem pretensão, mas com consciência."
Densidades artísticas à parte, a banda de nove integrantes tem um lado pop aguçado, que, diz Iara, se revelou ainda mais no segundo e mais recente disco, "Filme Brasileiro". "Não foi uma procura consciente pelo pop, mas foi um caminho natural. A gente pegou o que estava sentindo no momento e colocou na produção do disco, e muita gente veio nos dizer que acabou ficando mais acessível, mais palatável."
A questão existencialista do pop surge sobretudo no DonaZica por suas referências, embutidas em seu DNA: uma das cantoras da banda é Anelis Assumpção, filha do cultuado músico da chamada vanguarda paulistana Itamar Assumpção. Iara tem parentesco semelhante: sua mãe é a cantora Alzira Espíndola e seu pai é o compositor Carlos Rennó. Ambas cantavam com Itamar em shows, antes de sua morte, em 2003.
"É natural falar da vanguarda", explica Iara. "E é demais, porque nós realmente gostamos muito. Mas limita um pouco quando só se fala nisso. Nós temos essa referência, mas temos também um monte de outras. Nós não estamos querendo continuar a vanguarda nem nada assim, é só mais uma das coisas de que gostamos. Quando comecei a banda com a Andréia, por exemplo, nossa única referência comum era Tom Zé -que também é vanguarda, mas não desse mesmo movimento. Acho que no DonaZica acaba ficando tudo misturado."
Tudo misturado: MPB, vanguarda paulistana, pop, arranjos criativos, nove integrantes (com instrumentos como trompete, flauta e percussão), letras espertas (em alguns momentos, talvez até um pouco demais). E doçura e senso de humor. "A leveza e o humor têm que estar juntos com essa densidade artística, tem que ser uma coisa natural", diz Iara. "E a banda tem uma certa doçura porque tem muita menina na formação", ri.

Convidados
Nas apresentações de amanhã a domingo, a banda planeja mostrar músicas de seus dois álbuns, algumas inéditas, composições de Ataulfo Alves (que foi homenageado pela banda no começo do ano em shows no Sesc Vila Mariana) e ainda músicas dos artistas convidados.
"A gente gosta desse diálogo", conta Iara. "A banda já tem essa tradição de cantar com convidados e a gente tem uma abertura que engloba muita coisa. Todo mundo da banda toca com muita gente. Então aproveitamos esse show para organizar alguns encontros que queríamos, com gente que admiramos e com quem temos amizade."
Entre artistas novos (como Danilo Moraes) e clássicos (como Mautner e Arrigo), a banda mostra a amplitude de suas referências. Enquanto isso, os membros dedicam-se também a seus projetos próprios. Andréia Dias lança em breve excelente disco solo. Iara Rennó produz disco de adaptações musicais do livro "Macunaíma", de Mário de Andrade. Gustavo Ruiz toca também com a cantora Mariana Aydar.


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