São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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HIP HOP

Festival Linguagens Urbanas, que vai até domingo, traz nomes como o franco-senegalês Daara J e o inglês DJ Pogo

Manos vêm da Europa e invadem a cidade

Divulgação
Integrantes do grupo Daara J, que se apresenta no Festival Linguagens Urbanas


LUCIANA MACEDO
DO GUIA DA FOLHA

Um grupo de manos europeus vai invadir São Paulo. Eles trazem o break, as rimas, as habilidades do grafite e dos beats para mostrar o seu jeito de fazer hip hop.
Sob o nome de Linguagens Urbanas, o pacotão de atividades ligadas à cultura de rua começa hoje e vai até domingo nas unidades Pompéia e Santo André do Sesc, no Centro Cultural São Paulo, no ginásio Ibirapuera e no parque Santo Dias, no Capão Redondo.
No ano passado, quando foi chamado de Linguagens da Violência, o destaque da programação do festival era o grupo de rap francês Assasin.
Nesta edição, será mais difícil escolher: há o hip hop pacifista dos franco-senegaleses do Daara J; o alemão Niels "Storm" Robitzky, um dos b-boys mais importantes da Europa; o DJ inglês Pogo, vencedor do DMC em 97 (principal campeonato de DJs de hip hop do mundo) e a Batalha do Final de break com a apresentação de Storm. Tudo intercalado por debates entre intelectuais franceses e brasileiros, oficinas de grafite e DJ e exibição de filmes.
Quem patrocina o festival é o Consulado da França, o Sesc e a Prefeitura de São Paulo. Antes de estranhar a iniciativa, é bom saber que a França é o segundo maior mercado de produção e consumo de hip hop, atrás somente dos Estados Unidos.
A Alemanha contribui com o considerado b-boy Storm, que apresenta por aqui o inédito "Men at Work", espetáculo de dança de rua que criou com o parceiro parisiense Karl "Kane-Wüng" Libanus. E a Inglaterra manda o DJ Pogo, um dos reis do turntablismo (habilidade de fazer "manobras" com os toca-discos). Nos pick-ups há 15 anos, trabalhou com De la Soul, Missy Elliot e até com o saxofonista de jazz Courtney Pine.

Wolof
Rimando em wolof, o dialeto de sua etnia, os MCs franco-senegaleses do Daara J unem hip hop, reggae e raggamuffin a batidas afro e algum r&b. Há também um pouco de "toasting" (estilo jamaicano de rimar bem rápido) na levada de Lord Alaji Man. "Gostamos de música tradicional africana, de reggae, de mbalax (espécie de salsa afro) e de hip hop da velha e nova escolas." E os norte-americanos, algum na lista? "Preferimos rappers conscientes como Talib Kweli, Common, Mos Def e Dead Prez", diz Faada Fredy. Ele e seus parceiros N'Dongo D, Lord Alaji Man e o DJ Neasso também escrevem suas letras em inglês e francês. "Nós falamos sobre a força que a juventude deve ter para lutar contra a ignorância, o racismo e o ódio."
Empolgados com a vinda ao Brasil, aproveitam para lançar por aqui seu último CD, "Xalima". "Queremos estabelecer um contato permanente entre brasileiros e africanos por meio da nossa música. Temos séculos de escravidão em comum, e não podemos deixar que enterrem nossa história."


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