São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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Maria Fernanda Cândido vive sua 1ª vilã

Montagem dirigida por Mauro Baptista Vedia estreia neste sábado na Faap com dissonância de interpretações

Atriz vive marquesa grandiloquente; Marat Descartes cria visconde sórdido e bufão baseado em Chordelos de Laclos

João Caldas/Divulgação
A atriz Maria Fernanda Cândido e Marat Descartes na peça "Ligações Perigosas"

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A exposição da libertinagem da aristocracia francesa pré-revolucionária realizada pelo escritor Choderlos de Laclos em "Ligações Perigosas" (1789) rendeu inúmeras -e célebres- produções.
Entre as mais conhecidas, estão a primeira adaptação cinematográfica da obra, de Roger Vadim; "Quartett", de Heiner Müller, encenada por Bob Wilson, Patrice Chéreau e, no Brasil, Gerald Thomas; e as versões para teatro e cinema de Christopher Hampton, eleitas para uma montagem da Broadway e para o filme de Stephen Frears, premiado com o Oscar de melhor roteiro adaptado.
O texto de Hampton serve de base para uma nova "Ligações Perigosas", que estreia neste sábado. Nela, Mauro Baptista Vedia vive o desafio de dirigir uma peça que não seja de autoria de Mike Leigh, e Maria Fernanda Cândido interpreta pela primeira vez uma vilã.
É notório o jogo inescrupuloso de manipulação e sedução dos nobres libertinos Marquesa de Merteuil (Cândido) e Visconde de Valmont (Marat Descartes).
A novidade da montagem está em seu caráter polifônico. Vedia se inspira nas dissonâncias de uma orquestra de jazz para criar "uma unidade heterogênea, com diferentes modos de atuação". Enquanto a interpretação de Cândido é mais grandiloquente, a de Descartes parte da paródia em direção ao realismo. "Também quebrei o paradigma de que cada ator deve ter uma atuação monocórdica", conta o diretor.
Descartes rejeita a abordagem clássica e constrói um Valmont que, além de sórdido e luxurioso, é bufão. Conquista o espectador para depois surpreendê-lo com o realismo cru do segundo ato, cujo desfecho é trágico. "Minha pretensão é puxar o tapete do público", diz. Passados três séculos desde a criação do romance epistolar de Laclos, "Ligações" deixa de espantar pelo retrato da sexualidade da corte de Versailles, que escandalizou a França da época.
Fascina por sua atualidade. "O texto mostra a valorização da aparência do homem em detrimento de sua essência, a crise da ética e a inversão de valores", fala Cândido. "Nada mudou", constata Descartes.

LIGAÇÕES PERIGOSAS

QUANDO estreia sáb., às 21h; sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 18h; até 19/12
ONDE teatro Faap (r. Alagoas, 90, Consolação, tel. 3662-7232)
QUANTO de R$ 70 a R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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