São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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TEATRO

Encenação, que integra o 6º Cultura Inglesa Festival, tem como elenco brancos e aborígenes contando histórias

Australianos "unidos" trazem peça a SP

PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Aborígenes e brancos. Árvores pandano (comuns no norte australiano) e uma moderna antena parabólica. Elementos díspares, que entraram muitas vezes em contradição durante a história da Austrália, são referências -não apenas cênicas e de elenco- de "Crying Baby", que estréia hoje em São Paulo.
O espetáculo da Marrugeku Company faz quatro apresentações na cidade, integrando a programação teatral do 6º Cultura Inglesa Festival.
Com cerca de 20 artistas em cena, "Crying Baby" (algo como "bebê chorão") narra a história de uma criança abandonada no deserto pela tribo em que nasceu e de seus posteriores contatos com os colonizadores brancos.
Contado por Thompson Yulidjirri, um ativo artista aborígene, traduzido para o inglês pelo diretor musical Matthew Fargher e, enfim, vertido para o português por Alexandre Roit, o relato, palavra pura, à la contador de histórias, é encenado e ilustrado com danças da etnia Kunwinjku, música -gravada e acompanhada por instrumentos ao vivo- e filmes. Não faltarão ainda acrobacias, malabarismos e pernas-de-pau, técnicas do circo.
Há, intercalada à história do pequeno índio órfão, outras narrativas. A intenção do espetáculo é fazer uma leitura contemporânea das ancestrais fábulas aborígenes e, sem perder as raízes, atualizá-las ao mosaico cultural em que se constitui hoje a Austrália.
Toda essa festa acontece, é claro, sem prejuízo da consciência do passado pós-colonial traumático. E de seus prolongamentos no presente. "O trauma ainda existe em forma de racismo, há ainda muitos aborígenes vivendo em más condições. O que podemos fazer é contar histórias para ajudar as pessoas a terem uma visão mais aberta", diz Matthew Fargher, responsável pela parte musical da encenação, que tem como diretora Rachael Swain.
Já ficou consagrada a comparação que se faz entre Brasil e Austrália. Tanto pela extensão pouco comum dos territórios como pelos passados semelhantes. "Vocês têm uma história parecida, há muitas ligações", declara Fargher a respeito das complexas relações entre colonizador e colonizado.
O espaço escolhido para a celebração foram os jardins do Museu da Casa Brasileira, antigo Solar Prado, onde morou um dos prefeitos da cidade nos anos 30, Fábio Prado. Ao ar livre, a montagem abriga a platéia numa arquibancada em semicírculo.
Criada em 1994, a Marrugeku Company teve como primeiro trabalho "Mimi", encenado em 96. Desde então, a companhia tem procurado desenvolver uma linha de atuação capaz de abarcar múltiplas faces da identidade cultural da Austrália. "Crying Baby" tem também atores de teatro físico da Stalker Theatre Company. Durante o espetáculo, é projetado um filme do diretor de cinema aborígene Warwick Thornton.


CRYING BABY - espetáculo multimídia australiano.
História: Thompson Yulidjirri.
Direção: Rachael Swain.
Com: Marrugeku Company.
Onde: Museu da Casa Brasileira (av. Brig. Faria Lima, 2.705, Jardim Europa, tel. 3032-3727).
Quando: de hoje a sexta-feira, às 20h30; sábado, às 21h. Únicas apresentações.
Quanto: de R$ 10 a R$ 30. 90 minutos.
Patrocinador: Cultura Inglesa.



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