São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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Crítica/"Baila Comigo"

Filme perde ritmo ao alternar drama e leveza

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Desde o ocaso da era dos musicais, a partir do fim dos anos 50, Hollywood retoma periodicamente alguns dos charmes do gênero sob forma disfarçada.
"Baila Comigo" integra a mesma linhagem de "Dirty Dancing -0Ritmo Quente" e "Dança Comigo", em que do musical tradicional se preservam situações que justifiquem mostrar cenas coreo- grafadas.
O filme, dirigido por Randal Miller, busca ampliar seu repertório na seara do drama ao retratar a transformação na vida de Frank Keane (o sempre bom Robert Carlyle) depois que presencia um acidente numa estrada.
Keane, um padeiro que leva uma vida ordinária, testemunha o acidentado Steve Mills (o sempre gorduchão John Goodman) revelar uma espécie de último desejo: ele gostaria de ir ao encontro de um amor da infância num encontro marcado há muitos anos num salão onde funciona uma escola de dança.
Passado e presente, memórias e arrependimentos, expectativas e fracassos tornam-se, desse modo, os temas que gravitam em torno do salão Marilyn Hotchkiss. Aquele lugar, que já teve dias de glória, agora se encontra caído e meio às moscas, movido apenas pelo idealismo da herdeira e por alguns parcos freqüentadores.
Ali vigora uma espécie de nostalgia geracional, reforçada pela presença de atores como Marisa Tomei, Mary Steenburgen e Sonia Braga, que já tiveram momentos de estrela antes de serem relegados a papéis em filmes menores.

Do drama ao romantismo
Para não mergulhar o espectador no sofrimento -já que muita gente não quer do cinema nada mais que uma boa diversão-, o filme ziguezagueia do drama ao romantismo coreografado.
Mas as tantas passagens súbitas das situações dolorosas para as cenas leves de bailado nem sempre funcionam bem, quebrando o ritmo e perturbando a gravidade com excesso de leveza e vice-versa.
O que garante certo interes- se é a idéia de transmissão, quando o padeiro vê seu cotidiano banal transformado pela beleza que experimenta no salão de baile.
Neste universo, as leis da sedução e do amor é que comandam os rodopios dos casais, introduzindo no filme um viés romântico. A mulher ocupa aí o lugar central, uma espécie de ícone que permite aos homens escaparem de suas limitadas vidas para um espaço de sonho.
Como não estamos mais no mundo encantado dos estúdios hollywoodianos da década de 50, o sonho também tem o seu momento de dissolução ao acordar. É o que acontece em uma das boas situações de "Baila Comigo", quando o padeiro finalmente encontra a musa do acidentado e somos levados a enxergar o lado real das ilusões.


BAILA COMIGO
Produção:
EUA, 2005
Direção: Randall Miller
Com: Robert Carlyle, Marisa Tomei, John Goodman e Sônia Braga
Quando: em cartaz no Cine TAM, Frei Caneca Unibanco Arteplex e Sala UOL
Avaliação: regular


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