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Crítica/"Baila Comigo"
Filme perde ritmo ao alternar drama e leveza
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Desde o ocaso da era dos
musicais, a partir do
fim dos anos 50, Hollywood retoma periodicamente
alguns dos charmes do gênero
sob forma disfarçada.
"Baila Comigo" integra a
mesma linhagem de "Dirty
Dancing -0Ritmo Quente"
e "Dança Comigo", em que
do musical tradicional se preservam situações que justifiquem mostrar cenas coreo-
grafadas.
O filme, dirigido por Randal
Miller, busca ampliar seu repertório na seara do drama ao
retratar a transformação na vida de Frank Keane (o sempre
bom Robert Carlyle) depois
que presencia um acidente numa estrada.
Keane, um padeiro que leva
uma vida ordinária, testemunha o acidentado Steve Mills
(o sempre gorduchão John
Goodman) revelar uma espécie
de último desejo: ele gostaria
de ir ao encontro de um amor
da infância num encontro marcado há muitos anos num salão
onde funciona uma escola
de dança.
Passado e presente, memórias e arrependimentos, expectativas e fracassos tornam-se,
desse modo, os temas que gravitam em torno do salão Marilyn Hotchkiss.
Aquele lugar, que já teve dias
de glória, agora se encontra caído e meio às moscas, movido
apenas pelo idealismo da herdeira e por alguns parcos freqüentadores.
Ali vigora uma espécie de
nostalgia geracional, reforçada
pela presença de atores como
Marisa Tomei, Mary Steenburgen e Sonia Braga, que já tiveram momentos de estrela antes
de serem relegados a papéis em
filmes menores.
Do drama ao romantismo
Para não mergulhar o espectador no sofrimento -já que
muita gente não quer do cinema nada mais que uma boa diversão-, o filme ziguezagueia
do drama ao romantismo coreografado.
Mas as tantas passagens súbitas das situações dolorosas
para as cenas leves de bailado
nem sempre funcionam bem,
quebrando o ritmo e perturbando a gravidade com excesso
de leveza e vice-versa.
O que garante certo interes-
se é a idéia de transmissão,
quando o padeiro vê seu cotidiano banal transformado pela
beleza que experimenta no salão de baile.
Neste universo, as leis da
sedução e do amor é que comandam os rodopios dos casais, introduzindo no filme um
viés romântico. A mulher ocupa aí o lugar central, uma espécie de ícone que permite aos
homens escaparem de suas limitadas vidas para um espaço
de sonho.
Como não estamos mais
no mundo encantado dos estúdios hollywoodianos da década
de 50, o sonho também tem o
seu momento de dissolução ao
acordar. É o que acontece em
uma das boas situações de
"Baila Comigo", quando o padeiro finalmente encontra a
musa do acidentado e somos
levados a enxergar o lado real
das ilusões.
BAILA COMIGO
Produção: EUA, 2005
Direção: Randall Miller
Com: Robert Carlyle, Marisa Tomei,
John Goodman e Sônia Braga
Quando: em cartaz no Cine TAM, Frei
Caneca Unibanco Arteplex e Sala UOL
Avaliação: regular
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