São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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Mostra exibe e discute obra do "maldito" Agrippino de Paula

Longa "Hitler do 3º Mundo", marco do cinema marginal, passa hoje no CCSP

Luiz Carlos Murauskas - 22.nov.03/Folha Imagem
O cineasta José Agrippino de Paula

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Guru intelectual de Caetano Veloso nos anos 60, o escritor, dramaturgo e cineasta paulista José Agrippino de Paula (1937-2007) foi uma figura singular no underground brasileiro, um maldito entre os malditos.
Para celebrar e debater a obra desse criador radical, irredutível e intratável, o Centro Cultural São Paulo exibe de hoje a domingo o Ciclo José Agrippino de Paula, com toda a sua produção cinematográfica, além de documentários de Lucila Meirelles e Miriam Chnaiderman sobre o artista e debates com José Roberto Aguilar, Carlos Reichenbach e Tata Amaral, entre outros.
O destaque da programação é o longa "Hitler 3º Mundo" (1968), um dos marcos do cinema dito marginal, que será exibido hoje. Rodado quase todo nas ruas de São Paulo, é uma colagem de situações insólitas. Um samurai (Jô Soares) persegue com sua espada um clone de Hitler e depois simula haraquiri (o suicídio ritual) diante de transeuntes atônitos no centro da cidade. Um barco cheio de miseráveis fica atolado na areia. Uma grã-fina (Ruth Escobar) entra no banheiro onde um nazista toma banho com seu assecla para interceder em favor de um jovem preso político.
Todos os temas quentes da época -repressão, tortura, consumismo, cultura de massa, revolução sexual- aparecem transfigurados numa espécie de escrita automática audiovisual, próxima do primeiro trabalho de Buñuel.
Os outros filmes do ciclo são curtas e médias em super-8 que Agrippino realizou com sua companheira, a dançarina Maria Esther Stockler. Neles, registrando os movimentos de Maria Esther ou os rituais de candomblé na costa oeste da África (onde o casal viveu por mais de um ano), o artista parece querer captar uma geometria do êxtase.
À saturação dos signos de "Hitler 3º Mundo" sucedeu-se uma busca do gesto cósmico.
Agrippino se transformara, nas palavras de Caetano, num "ultra-hippie e vivente de uma nova era".


JOSÉ AGRIPPINO DE PAULA
Quando: de hoje a 27/7
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3383-3402; veja programação em www.centrocultural.sp.gov.br)
Quanto: entrada franca
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos


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