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"SANTAGUSTIN"
Coreografia do Corpo deixa sensação de déjà vu
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Com "Santagustin", o novo espetáculo do Grupo Corpo, a companhia mineira mais
uma vez leva à cena uma produção tecnicamente impecável.
Como de hábito, a reconhecida
eficiência é sustentada pelo tripé
formado pela coreografia de Rodrigo Pederneiras, a música encomendada a um compositor capaz
de interpretar o Brasil com personalidade (desta vez Tom Zé) e a
cenografia concebida por Paulo
Pederneiras e Fernando Velloso
que, rompendo a regra de mais de
duas décadas, dividem a concepção visual com outro figurinista.
No lugar de Freusa Zechmeister, é
Ronaldo Fraga o autor das roupas
que somam humor debochado ao
tema do amor, que conduz o espetáculo.
Tema tão fugidio e ardiloso não
é fácil de ser explorado coreograficamente. Para escapar dos estereótipos, Rodrigo optou por uma
abordagem que expressa o amor
como condição instintiva, sem
afetações sentimentalistas. Por essa via de acesso, ele fala do amor
como uma condição natural, que
se manifesta por meio de corpos
que se atraem e se separam, num
fluxo contínuo e primordial.
A escolha é bem-sucedida e, para tanto, Rodrigo se vale do vocabulário próprio que ele introduziu na dança brasileira. Virtuosista, sensível à beleza formal e com
uma musicalidade que expande a
escritura coreográfica, a linguagem de Rodrigo já é uma marca.
O desafio, a partir dessa conquista, é mantê-la em renovação
permanente, subvertê-la até, correr novos riscos e continuar surpreendendo. Atrelado à sólida estrutura do Corpo, que se tornou o
empreendimento mais bem-sucedido da dança brasileira, Rodrigo possui um instrumental organizado, que já pede variáveis.
Gestos, frases ou procedimentos coreográficos padronizados
surgem repetitivamente nas últimas coreografias. "Santagustin"
deixa a impressão (ou certeza) de
que algo já foi visto em obras anteriores. Claro que uma obra pode
ser continuidade da outra, mas
perante o que o Corpo vem apresentando, sente-se falta de uma
nova aventura artística, capaz de
sacudir as soluções conhecidas.
À parte os novos desafios que o
tempo traz, o Corpo vem exibindo a reconhecida competência,
revigorada pelo elenco coeso que
possui agora. Em cada componente de "Santagustin", a excelência existe por si, seja na bela e sofisticada música de Tom Zé, na
ambientação envolvente ou no figurino atrevido de Ronaldo Fraga. Quem sabe, "embaralhados"
numa proposta menos previsível,
tais elementos possam interagir
de forma renovada, em produções futuras.
(ANA FRANCISCA PONZIO)
Santagustin, do Grupo Corpo
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722; tel. 0800-558191)
Quando: de hoje a sábado, às 21h;
domingo, às 18h
Quanto: de R$ 30 a R$ 60
Patrocinador: Petrobras
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