São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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"SANTAGUSTIN"

Coreografia do Corpo deixa sensação de déjà vu

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com "Santagustin", o novo espetáculo do Grupo Corpo, a companhia mineira mais uma vez leva à cena uma produção tecnicamente impecável.
Como de hábito, a reconhecida eficiência é sustentada pelo tripé formado pela coreografia de Rodrigo Pederneiras, a música encomendada a um compositor capaz de interpretar o Brasil com personalidade (desta vez Tom Zé) e a cenografia concebida por Paulo Pederneiras e Fernando Velloso que, rompendo a regra de mais de duas décadas, dividem a concepção visual com outro figurinista. No lugar de Freusa Zechmeister, é Ronaldo Fraga o autor das roupas que somam humor debochado ao tema do amor, que conduz o espetáculo.
Tema tão fugidio e ardiloso não é fácil de ser explorado coreograficamente. Para escapar dos estereótipos, Rodrigo optou por uma abordagem que expressa o amor como condição instintiva, sem afetações sentimentalistas. Por essa via de acesso, ele fala do amor como uma condição natural, que se manifesta por meio de corpos que se atraem e se separam, num fluxo contínuo e primordial.
A escolha é bem-sucedida e, para tanto, Rodrigo se vale do vocabulário próprio que ele introduziu na dança brasileira. Virtuosista, sensível à beleza formal e com uma musicalidade que expande a escritura coreográfica, a linguagem de Rodrigo já é uma marca.
O desafio, a partir dessa conquista, é mantê-la em renovação permanente, subvertê-la até, correr novos riscos e continuar surpreendendo. Atrelado à sólida estrutura do Corpo, que se tornou o empreendimento mais bem-sucedido da dança brasileira, Rodrigo possui um instrumental organizado, que já pede variáveis.
Gestos, frases ou procedimentos coreográficos padronizados surgem repetitivamente nas últimas coreografias. "Santagustin" deixa a impressão (ou certeza) de que algo já foi visto em obras anteriores. Claro que uma obra pode ser continuidade da outra, mas perante o que o Corpo vem apresentando, sente-se falta de uma nova aventura artística, capaz de sacudir as soluções conhecidas.
À parte os novos desafios que o tempo traz, o Corpo vem exibindo a reconhecida competência, revigorada pelo elenco coeso que possui agora. Em cada componente de "Santagustin", a excelência existe por si, seja na bela e sofisticada música de Tom Zé, na ambientação envolvente ou no figurino atrevido de Ronaldo Fraga. Quem sabe, "embaralhados" numa proposta menos previsível, tais elementos possam interagir de forma renovada, em produções futuras.
(ANA FRANCISCA PONZIO)


Santagustin, do Grupo Corpo    
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722; tel. 0800-558191)
Quando: de hoje a sábado, às 21h; domingo, às 18h
Quanto: de R$ 30 a R$ 60
Patrocinador: Petrobras




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