São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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"ENIGMA"/"NUNCA MAIS"

Diretor Michael Apted estréia dois filmes e erra a mão em ambos

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

O atraso do lançamento brasileiro de "Enigma" (filme de 2001) provocou uma rara coincidência: a estréia simultânea de duas obras de um mesmo diretor, o inglês Michael Apted. Além dessa produção independente, chega às telas "Nunca Mais", produto tipicamente hollywoodiano.
Vindo do documentário televisivo, o diretor transita entre gêneros diversos, às vezes com competência ("Assassinato no Parque Gorki"), às vezes com sonolência ("Na Montanha dos Gorilas").
"Enigma" e "Nunca Mais", infelizmente, são duas tropeçadas seguidas. A primeira um pouco menos constrangedora que a segunda, já que "Enigma" tem lá seu fascínio. Fala da dura vida dos cripto-analistas, profissionais que trabalharam na Segunda Guerra Mundial decifrando mensagens nazistas, transmitidas em código.
Porém o roteiro parece ter sido concebido usando códigos de guerra na montagem de sua estrutura. Respeita a paixão de seus personagens, mas obriga o espectador, sem que ele seja devidamente estimulado para tanto, a decifrar o que se passa na tela. Diversas tramas se embaralham, que no fim vão estar de alguma forma interligadas, mas a pergunta que fica é um sonoro "e daí?". Se o roteiro é confuso, Apted não ajuda com absoluta falta de estilo.
Mas fica difícil falar do roteiro de "Enigma" se o elemento de comparação for "Nunca Mais". Esse chega a divertir, de tão primário. Trata-se de um típico filme-veículo para que, no caso, Jennifer Lopez possa brilhar.
Em 20 minutos de filme, sua personagem, a garçonete Slim, conhece um príncipe encantado milionário, muda-se para a casa dos seus sonhos e tem uma linda filha. Mais ou menos no 21º minuto de filme, o marido subitamente se revela um crápula mentiroso, adúltero e obcecado, capaz de surrar a mulher para evitar(?) a separação. Slim foge, muda de identidade e nesse ponto a coisa começa a ficar divertida. Ela resolve aprender Krav Magá, a luta de defesa pessoal da moda. O desfecho, bem, é fácil adivinhar daí. Um confronto mortal. E ridículo.
Não há paralelos possíveis entre um filme e outro porque Michael Apted não é um autor. Até aí, nada demais, há vários artesãos capazes de construir belas peças cinematográficas, sem que elas, em conjunto, constituam uma "obra". Mas Apted, nesses dois casos, está tomado por um trivialismo aborrecido, que talvez explique a pouca ou nenhuma repercussão desses dois filmes.


Enigma  
Com: Dougray Scott e Kate Winslet
Onde: Metrô Santa Cruz 3, Anália Franco 7, Jardim Sul 11 e circuito.

Nunca Mais  
Com: Jennifer Lopez e Bill Campbell
Onde: Belas Artes/Sala Cândido Portinari, SP Market 8 e circuito




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