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"ENIGMA"/"NUNCA MAIS"
Diretor Michael Apted estréia dois filmes e erra a mão em ambos
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O atraso do lançamento
brasileiro de "Enigma" (filme de 2001) provocou uma rara
coincidência: a estréia simultânea
de duas obras de um mesmo diretor, o inglês Michael Apted. Além
dessa produção independente,
chega às telas "Nunca Mais", produto tipicamente hollywoodiano.
Vindo do documentário televisivo, o diretor transita entre gêneros diversos, às vezes com competência ("Assassinato no Parque
Gorki"), às vezes com sonolência
("Na Montanha dos Gorilas").
"Enigma" e "Nunca Mais", infelizmente, são duas tropeçadas seguidas. A primeira um pouco menos constrangedora que a segunda, já que "Enigma" tem lá seu
fascínio. Fala da dura vida dos
cripto-analistas, profissionais que
trabalharam na Segunda Guerra
Mundial decifrando mensagens
nazistas, transmitidas em código.
Porém o roteiro parece ter sido
concebido usando códigos de
guerra na montagem de sua estrutura. Respeita a paixão de seus
personagens, mas obriga o espectador, sem que ele seja devidamente estimulado para tanto, a
decifrar o que se passa na tela. Diversas tramas se embaralham,
que no fim vão estar de alguma
forma interligadas, mas a pergunta que fica é um sonoro "e daí?".
Se o roteiro é confuso, Apted não
ajuda com absoluta falta de estilo.
Mas fica difícil falar do roteiro
de "Enigma" se o elemento de
comparação for "Nunca Mais".
Esse chega a divertir, de tão primário. Trata-se de um típico filme-veículo para que, no caso,
Jennifer Lopez possa brilhar.
Em 20 minutos de filme, sua
personagem, a garçonete Slim,
conhece um príncipe encantado
milionário, muda-se para a casa
dos seus sonhos e tem uma linda
filha. Mais ou menos no 21º minuto de filme, o marido subitamente
se revela um crápula mentiroso,
adúltero e obcecado, capaz de
surrar a mulher para evitar(?) a
separação. Slim foge, muda de
identidade e nesse ponto a coisa
começa a ficar divertida. Ela resolve aprender Krav Magá, a luta de
defesa pessoal da moda. O desfecho, bem, é fácil adivinhar daí.
Um confronto mortal. E ridículo.
Não há paralelos possíveis entre
um filme e outro porque Michael
Apted não é um autor. Até aí, nada demais, há vários artesãos capazes de construir belas peças cinematográficas, sem que elas, em
conjunto, constituam uma
"obra". Mas Apted, nesses dois
casos, está tomado por um trivialismo aborrecido, que talvez explique a pouca ou nenhuma repercussão desses dois filmes.
Enigma
Com: Dougray Scott e Kate Winslet
Onde: Metrô Santa Cruz 3, Anália Franco
7, Jardim Sul 11 e circuito.
Nunca Mais
Com: Jennifer Lopez e Bill Campbell
Onde: Belas Artes/Sala Cândido
Portinari, SP Market 8 e circuito
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