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ERUDITO
Pianista apresenta sonatas do compositor no teatro Cultura Artística
Clara Sverner dribla as armadilhas de Mozart
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A pianista brasileira Clara Sverner, 67, lança hoje, em concerto
no teatro Cultura Artística, em
São Paulo, o segundo dos cinco
CDs que programou com a integral das sonatas de Wolfgang
Amadeus Mozart (1756-1791).
As obras para piano que Mozart
escreveu trazem uma armadilha
na qual alguns intérpretes costumam cair. Eles o fazem involuntariamente por ignorarem a profundidade daquilo que têm diante
dos olhos ou, às vezes, até por pura malandragem, para que a melodia, vista como forma de entretenimento, seja colocada, sem
grandes obstáculos, no circuito
comercial da música erudita.
A leitura de Clara Sverner é singular justamente pela maneira
com que traz à tona um Mozart
que reconstrói, por meio das sonatas, uma nova linguagem para
o piano. "Ele é, ao contrário de Joseph Haydn, um precursor de
Beethoven, de Chopin e do romantismo", diz Sverner.
Essa característica transparece
sobretudo nos movimentos lentos de cada obra que ela gravou.
"É um canto perpétuo, com uma
incrível capacidade de criação de
melodias", e não apenas uma seqüência bem escrita de frases que
começam com notas graves e acabam com notas agudas.
"Meu Mozart é o compositor da
transgressão, das dissonâncias. A
mão esquerda é importantíssima.
Os silêncios são cheios de significado, e não simples pausas."
Sverner não é a única artista que
se aproxima desse repertório com
essa visão. Ela própria reconhece
que possui cúmplices conhecidos,
como a pianista portuguesa Maria João Pires.
Trata-se, de qualquer modo, de
algo que os melômanos e apreciadores do piano facilmente identificarão. Ou por meio do CD ou ao
ouvi-la hoje à noite.
Ela fará as três sonatas da gravação que será lançada, as de número 283, 284 e 309, do catálogo Köchel. São peças escritas entre 1775
e 1779, quando o jovem Mozart já
havia alcançado a plena maturidade musical.
Sverner, formada em Genebra e
Nova York, é autora de trabalhos
pioneiros sobre Glauco Velásquez
e Chiquinha Gonzaga. Tem em
seu repertório nomes como Alban Berg, Almeida Prado, George
Gershwin ou Villa-Lobos.
CLARA SVERNER. Onde: teatro Cultura
Artística - sala Rubens Sverner (r. Nestor
Pestana, 196, região central, tel. 3258-3616). Quando: hoje, às 21h. Quanto: R$
20.
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