São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

Próximo Texto | Índice

ERUDITO

Pianista apresenta sonatas do compositor no teatro Cultura Artística

Clara Sverner dribla as armadilhas de Mozart

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A pianista brasileira Clara Sverner, 67, lança hoje, em concerto no teatro Cultura Artística, em São Paulo, o segundo dos cinco CDs que programou com a integral das sonatas de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791).
As obras para piano que Mozart escreveu trazem uma armadilha na qual alguns intérpretes costumam cair. Eles o fazem involuntariamente por ignorarem a profundidade daquilo que têm diante dos olhos ou, às vezes, até por pura malandragem, para que a melodia, vista como forma de entretenimento, seja colocada, sem grandes obstáculos, no circuito comercial da música erudita.
A leitura de Clara Sverner é singular justamente pela maneira com que traz à tona um Mozart que reconstrói, por meio das sonatas, uma nova linguagem para o piano. "Ele é, ao contrário de Joseph Haydn, um precursor de Beethoven, de Chopin e do romantismo", diz Sverner.
Essa característica transparece sobretudo nos movimentos lentos de cada obra que ela gravou. "É um canto perpétuo, com uma incrível capacidade de criação de melodias", e não apenas uma seqüência bem escrita de frases que começam com notas graves e acabam com notas agudas.
"Meu Mozart é o compositor da transgressão, das dissonâncias. A mão esquerda é importantíssima. Os silêncios são cheios de significado, e não simples pausas."
Sverner não é a única artista que se aproxima desse repertório com essa visão. Ela própria reconhece que possui cúmplices conhecidos, como a pianista portuguesa Maria João Pires.
Trata-se, de qualquer modo, de algo que os melômanos e apreciadores do piano facilmente identificarão. Ou por meio do CD ou ao ouvi-la hoje à noite.
Ela fará as três sonatas da gravação que será lançada, as de número 283, 284 e 309, do catálogo Köchel. São peças escritas entre 1775 e 1779, quando o jovem Mozart já havia alcançado a plena maturidade musical.
Sverner, formada em Genebra e Nova York, é autora de trabalhos pioneiros sobre Glauco Velásquez e Chiquinha Gonzaga. Tem em seu repertório nomes como Alban Berg, Almeida Prado, George Gershwin ou Villa-Lobos.


CLARA SVERNER. Onde: teatro Cultura Artística - sala Rubens Sverner (r. Nestor Pestana, 196, região central, tel. 3258-3616). Quando: hoje, às 21h. Quanto: R$ 20.


Próximo Texto: Show de Luiz Melodia faz revisão de carreira
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.