São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

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Crítica/"A Mulher do Meu Amigo"

Comédia de costumes à moda antiga resulta em filme frouxo e disforme

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Dizem que a comédia é mais difícil que o drama -e, para quem ainda duvidar do clichê, "A Mulher do Meu Amigo" é um exemplo esclarecedor. Entre um riso constrangido e outro um pouco menos, nota-se que existia ali um material razoável, mas que simplesmente "desandou" ao tomar a forma de um filme (ou melhor, ao não tomar a forma de um filme).
Na comédia, mais do que no drama, a questão formal parece se tornar mais evidente. Os elementos a serem orquestrados são muitos e, mesmo que a maior parte deles esteja "nos trinques" (bons atores, bons diálogos, bons cenários), tudo depende é do "timing", o tempo da cena. No palco, esse tempo está basicamente nas mãos do ator; no cinema, não só.
Num filme cômico, o tempo precisa ser justo tanto no interior da cena (na interação dos atores) como em seu "exterior" (na organização dos planos e no ritmo ditados pela montagem). "A Mulher do Meu Amigo" erra nos dois aspectos, desperdiçando todo seu potencial.
A adaptação de Cláudio Torres para a peça "Largando o Escritório", de Domingos Oliveira, respeita a estrutura de "vaudeville" moderno do texto original. Basicamente, "A Mulher do Meu Amigo" é uma comédia de costumes à moda antiga, centrada no tema da traição e envolvendo dois casais (Marcos Palmeira e Mariana Ximenes, Otávio Muller e Maria Luisa Mendonça). Como no teatro, teremos o entra-e-sai dos atores e até o recurso de personagens escondidos no armário.
O roteiro, porém, procura disfarçar as origens teatrais da história com soluções mais evidentes (variar os cenários, incluir mais cenas externas, caprichar na trilha), mas, diante da omissão da encenação e da montagem, essas soluções acabam apenas ressaltando a teatralidade do filme. Em seu conjunto, enfim, "A Mulher do Meu Amigo" é uma obra frouxa e disforme, que se apóia em uma ou duas linhas de diálogos mais inspiradas, incapazes de salvar o conjunto.

Avaliação: ruim


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