São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Crítica/"Vingança"

Suspense de baixo orçamento, longa de estréia parece trem desgovernado

Divulgação
Branca Messina e Erom Cordeiro em cena do filme "Vingança"

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

É difícil saber aonde "Vingança" quer chegar. Tudo leva a crer que o diretor Paulo Pons, em sua estréia em longa-metragem, tenha procurado realizar um suspense de baixo orçamento, capaz de fisgar o público com o domínio da linguagem e a manipulação de elementos essenciais.
Além de simpática, a proposta é viável e cada vez mais acessível com os recursos digitais -basta ver o ótimo horror espanhol "[REC]", em cartaz. Mas em "Vingança" tudo escapa ao controle, e o resultado parece apenas um trem desgovernado.
Pons quer contar uma história de vingança clássica de forma clássica. É um filme que se pretende direto até no título, e nota-se um esforço grande, até certo ponto razoavelmente bem-sucedido, em construir uma atmosfera de tensão. Mas, aos poucos, o filme ganha contornos excessivamente sinuosos, e a trama toma desvios de caminho anunciando uma grande reviravolta que na verdade não chega nunca.
A conseqüência é uma constante sensação de frustração. Quando um suspense se constrói no vazio, o espectador começa a se fazer perguntas que, aparentemente, o diretor não se impôs a si mesmo (basicamente: por que contar essa história?). Os movimentos dos personagens tornam-se previsíveis e repetitivos, e a experiência do filme fica, simplesmente, cansativa.
Em "Vingança", a busca pelo domínio da técnica parece ser anterior à busca pela expressão. O objetivo primeiro do filme é demonstrar certo domínio nos enquadramentos e na narrativa, e não exprimir um ponto de vista sobre o mundo, qualquer que ele seja. E talvez por isso o resultado final tenha esse jeitão de "filme portfólio", um projeto que é antes de tudo um degrau para que se possa, depois dele, possivelmente com mais recursos, realizar um "filme de verdade".
Avaliação: ruim



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