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Crítica/"O Amor nos Tempos do Cólera"
Modelo antiquado faz longa fracassar
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Os cineastas deveriam
ter mais medo de Gabriel García Márquez.
Não importa a estatura, o fato é
que nenhum sobreviveu ao embate de transformar as imagens
do escritor colombiano em filmes. O caso mais recente é o
habilidoso Mike Newell, cuja
adaptação de "O Amor nos
Tempos do Cólera" é, no mínimo, um fracasso.
Nem se trata de conceber a
difícil tradução do realismo
mágico para o cinema, já que
neste romance o estilo que tornou García Márquez célebre já
havia sido superado em proveito de um outro realismo, poético e sentimental, em que as bifurcações do tempo se reafirmam como seu mais imponente material narrativo.
Ao ser roteirizada e linearizada, a saga de Florentino Ariza
em sua devoção amorosa a Fermina Daza, que atravessa meio
século da turbulenta história
colombiana, converte-se num
novelão, um melodrama de
emoções ultrapassadas.
O modelo de cinema ressuscitado nesta adaptação, com
sua crença no poder da grande
imagem, no espetáculo do exotismo, na riqueza detalhista da
reconstituição de época, também já não interessa nada.
O pouco que sobra são as presenças de Javier Bardem (um
Florentino Ariza bastante verdadeiro) e Fernanda Montenegro (nobre até sob o peso de um
inglês postiço), que sobrevivem
ao show de canastrice.
O resto é um naufrágio sob
toneladas de direção de arte e
diálogos que literariamente são
encantadores, mas que incorporados por atores dão vontade
mesmo é de dormir.
O AMOR NOS TEMPOS
DO CÓLERA
Direção: Mike Newell
Com: Javier Bardem, Giovanna Mezzogiorno, Fernanda Montenegro
Produção: EUA, 2007
Onde: a partir de amanhã no Reserva Cultural, Belas Artes e circuito
Avaliação: ruim
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