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CINEMA
Em votação do público e dos críticos, festival apresenta 30 produções e escolhe Almodóvar e "Cidade de Deus"
Cinesesc elege melhores filmes de 2002
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Chegou a hora de ver ou rever o
que os cinemas brasileiros exibiram de melhor em 2003.
Começa hoje, com a exibição
para convidados do longa-metragem inédito "Rua Seis sem Número", de João Batista de Andrade, o Festival Sesc dos Melhores
Filmes do Ano, promovido desde
1974 pelo Cinesesc.
Até o dia 6 de abril serão exibidos 30 longas-metragens nacionais e estrangeiros, escolhidos por
41 críticos e 620 espectadores que
depositaram seus votos na urna
do Cinesesc.
Este ano, coroando uma tendência de aproximação observada nos últimos tempos, houve pela primeira vez uma coincidência
entre as escolhas da crítica e do
público em todas as categorias em
disputa: filme, diretor, ator e atriz,
tanto na produção estrangeira como na nacional.
O filme brasileiro mais votado
foi "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles (eleito melhor diretor); o estrangeiro, "Fale com
Ela", de Pedro Almodóvar (também eleito como melhor diretor).
Lázaro Ramos ("Madame Satã") e Sabrina Greve ("Uma Vida
em Segredo") foram os melhores
atores brasileiros lembrados na
mostra.
Os atores estrangeiros mais votados foram o argentino Ricardo
Darín ("O Filho da Noiva") e a
francesa Isabelle Huppert ("A
Professora de Piano").
Pode-se discordar de um ou de
outro escolhido, mas não há como contestar a legitimidade e a
importância da eleição, a mais representativa do gênero no país,
deixando muito para trás a da Associação Paulista dos Críticos de
Arte (realizada em reunião com
poucos votantes) e a da pomposa
Academia Brasileira de Cinema,
que só computa os votos dos críticos associados (leia-se pagantes).
Boa safra nacional
A mostra deste ano do Cinesesc
é uma boa oportunidade para
passar em revista uma safra excepcionalmente forte do cinema
brasileiro.
Além de "Cidade de Deus", despontaram os ótimos "O Invasor",
de Beto Brant; "Madame Satã", de
Karim Ainouz; "O Príncipe", de
Ugo Giorgetti; e os extraordinários documentários "Ônibus
174", de José Padilha, e "Edifício
Master", de Eduardo Coutinho.
Do cinema radicalmente autoral de Júlio Bressane (com "Dias
de Nietszche em Turim") ao entretenimento inteligente de Jorge
Furtado (com "Houve uma Vez
Dois Verões"), a cinematografia
brasileira amadureceu e floresceu
em várias frentes em 2002.
Já a produção internacional, no
mesmo período, mostrou uma
grande irregularidade.
Há uma distância abissal entre
os melhores títulos -os autorais
"Cidade dos Sonhos", de David
Lynch; "Elogio ao Amor", de
Jean-Luc Godard; "Água Quente
sob uma Ponte Vermelha", de
Shohei Imamura; além do citado
"Fale com Ela"- e o grosso da
produção comercial.
Há muito tempo a chamada
produção média de Hollywood e
de seus sucedâneos europeus parece ter sido colocada no piloto
automático.
Mesmo autores obviamente relevantes, como Robert Altman e
Woody Allen, compareceram nas
telas com obras menores, quase
dispensáveis: "Assassinato em
Gosford Park" e "Trapaceiros",
respectivamente.
Um dado animador, por outro
lado, é a presença do argentino "O
Filho da Noiva" na votação e na
mostra, sinal de que se começa a
superar o histórico bloqueio de
preconceito e ignorância diante
do cinema latino-americano.
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