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ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA
Cordel alimenta poesia de Samico
Divulgação
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"João, Maria e o Pavão Azul" (1960), que está na exposição "Samico", na Pinacoteca de São Paulo |
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Samico" é retrospectiva
sintética. Reúne, na Pinacoteca do Estado, a concisa trajetória do artista pernambucano do
desenho à gravura.
Gilvan Samico iniciou-se em arte como autodidata. Porém participou do Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife a
partir da fundação, em 1952. O
contato com a rede da arte moderna nacional da década de 50 levou-o a ter aulas de gravura com
Lívio Abramo, em São Paulo. Em
seguida, foi ao Rio de Janeiro estudar com Osvaldo Goeldi.
A volta para Olinda, em 65,
aproximou-o do grupo de cultura
regionalista que se articulava em
torno de Ariano Suassuna. A iniciativa resultou na fundação do
movimento armorial em 1970.
Desde então, Samico representa o
interesse programático dos armoriais pela técnica tradicional de
ilustração do romanceiro nordestino popular, o cordel.
O período de formação do artista agrupa-se nas duas primeiras
salas. Desenhos a grafite ou nanquim e aquarelas acompanham
os primeiros gravados. A mão de
ambos os mestres repete-se no
aluno. A xilogravura "Lua Cheia"
(1959) enfatiza a atmosfera carregada pela impressão predominante de áreas lisas entintadas de
preto, cortadas por linhas brancas, à maneira de Goeldi. Nas
"Três Mulheres e a Lua" (1959), o
luar sobre os planos constrói-se
pelo tracejado paralelo e leve, ao
estilo de Abramo.
Entretanto a maturidade se inicia com a virada primitivista. A
partir de 60, Samico passa a estruturar rigidamente a composição e
a simplificar o traço. A "Tentação
de Santo Antônio" (1962) cria
profundidade pelo uso do branco
do papel como estrada elíptica
que centraliza a cena de figuras
planas.
O interesse do artista pelo cordel, tradicionalmente xilogravado, ampliou o sentido gráfico das
obras. A tipografia e a paginação
tornaram-se elementos recorrentes a partir do "Apocalipse"
(1964) e da "Suzana no Banho"
(1966). "Resolvi ir ao texto de cordel", declarou Samico. "Para fazer
o que era para fazer mesmo: a gravura de ilustração. A gravura
sempre, ou quase sempre, teve esse papel: contar uma história."
O partido narrativo e ilustrativo
da produção seguinte exprime-se
conforme breve leque de opções
combinatórias, desenvolvido
com rigor e precisão por 40 anos.
A cada momento, repetem-se soluções de equilíbrio clássico, como a verticalidade tripartida de
"O Encontro" (1978) e de "A Fonte" (1990). O uso de cores é parcimonioso e chapado, combinando-se com figuras frontais e ornatos simétricos.
A poética das composições alimenta-se do imaginário mítico
das trovas de cordelistas. Assim, o
espectador poderá acompanhar
uma produção contemporânea
que se aliou a formas tradicionais
da cultura brasileira.
Samico, do Desenho à Gravura
Onde: Pinacoteca do Estado de São
Paulo (pça. da Luz, 2, região central, tel.
3229-9844)
Quando: de terça a domingo, das 10h às
17h30; até 3/10
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
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