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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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Ensaio de orquestra

Em tom de crítica social, "Música e Fantasia" satiriza o clássico da animação "Fantasia", de Walt Disney

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O italiano Bruno Bozzetto, 65, tinha dois anos de idade quando Walt Disney (1901-1966) realizou sua célebre mistura de música clássica e desenho animado em "Fantasia" (1940).
Depois de ter visto 11 vezes o filme, que despertou seu gosto pela música de concerto, Bozzetto realizou, em 1976, "Música e Fantasia" ("Allegro Non Troppo"), que estréia hoje em São Paulo e foi vendido como "a resposta italiana" ao clássico norte-americano.
Conhecido na Itália como o criador do "Signor Rossi" -um homem comum de meia-idade- e pela laureada série de TV "La Famiglia Spaghetti", Bozzetto experimenta hoje técnicas de animação por computador. Nessa linha, sua produção recente destaca "Europe & Italy", que satiriza as diferenças de costumes entre os italianos e demais membros da União Européia. Ele falou à Folha por e-mail sobre seu filme.
 

Folha - Como nasceu a idéia de "Música e Fantasia"?
Bruno Bozzetto -
Nasceu enquanto eu escutava "Bolero" de Ravel. Imaginei uma marcha inexorável para a evolução, com as personagens que mudavam continuamente. Propus a idéia aos meus colaboradores daquela época, e todos se entusiasmaram. Como grande admirador de "Fantasia", pensei em refazer uma "Fantasia" muitos anos depois e com uma visão moderna.

Folha - Como você escolheu os trechos musicais?
Bozzetto -
Ouvindo muitos trechos e escolhendo aqueles que me faziam nascer imagens visuais. Alguns trechos não foram concedidos pelos editores, porque eles temiam que eu fosse ridicularizar a música. Às vezes, das primeiras notas, nascia uma bela história, mas, depois, a música andava na direção errada com relação à história que eu tinha em mente e então era obrigado a descartá-la.

Folha - Por que satirizar "Fantasia" de Disney?
Bozzetto -
Porque amei muito esse filme, que fez com que me enamorasse da música clássica. Antes, definia o clássico como "música dos mortos", talvez porque me recordasse a música que ouvia na igreja quando criança. A idéia pareceu-me original e inteligente e também me permitiu realizar os curtas que sempre tive como a melhor forma de expressão do desenho animado.

Folha - Que tipo de comparação é possível fazer entre "Fantasia" e "Música e Fantasia"?
Bozzetto -
"Fantasia" e "Música" são dois filmes diferentes, porque me esforcei em contar histórias com começo e fim, enquanto em "Fantasia" (à exceção do quadro "Aprendiz de Feiticeiro") era privilegiada a parte estética. Não gostei de "Fantasia 2000" porque o achei um pouco frio e destacado do espírito da música. O quadro "Os Pinheiros de Roma", de Ottorino Respighi, com as baleias que voam, parece-me fora de lugar.

Folha - "Música" tem relações com "Ensaio de Orquestra", filmado depois de seu filme por Federico Fellini (1920-1993)?
Bozzetto -
Não acho. Como Fellini fez depois, a pergunta deveria ser feita a ele. Alguns críticos acharam nas sequências com os atores um espírito felliniano, mas não estou de acordo, mesmo adorando Fellini como diretor.

Folha - Seria justo dizer que "Fantasia" é para crianças e "Música e Fantasia" é para adultos?
Bozzetto -
Não. Assisti a muitas projeções de "Fantasia" nas quais as crianças se aborreciam e queriam sair do cinema.


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