São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA COMÉDIA

Peça "O Mentiroso" diverte ao oferecer o cômico em estado de transição histórica

Lenise Pinheiro/Folhapress
Augusto Marin (centro) e elenco em [cena do espetáculo

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA }FOLHA

Um passeio à infância do drama burguês. "O Mentiroso", do Commune coletivo Teatral, encena uma das mais de cem comédias que Carlo Goldoni (1707-1793) criou para renovar o teatro italiano do século 18.
Escrita em 1750, tem todas as características que o autor veneziano imprimiu em suas peças cômicas e óperas bufas, mixando aspectos da tradição italiana mais forte nos dois séculos anteriores -a Commedia Dell Arte- com influências francesas, principalmente de Molière.
Quando o Commune iniciou sua trajetória, há três anos, cristalizava-se a longa pesquisa de seu criador, Augusto Marin, em torno do resgate da Commedia Dell Arte e de seus sucedâneos.
Com a atual montagem, que ele dirige e protagoniza como ator, aquela investigação se mostra amadurecida. O texto de Goldoni retoma máscaras típicas do gênero, como as do Pantaleão e do Arlecchino, para inseri-las em uma trama que já combina aspectos dramáticos da futura comédia de costumes.
Assim, das habituais confusões entre patrões enamorados e criados intrigantes, Goldoni avança para uma trama mais urdida, com conotações morais menos arquetípicas e mais realistas.
No espetáculo de Marin, a essas características soma-se um diálogo com a tradição teatral do século 20, que reverencia a Commedia Dell Arte, acrescido da remissão a elementos mais contemporâneos, como os quadrinhos.
O personagem do mentiroso, que o próprio diretor encarna com vigor e eficácia, é um habitante confortável de nosso tempo. O exagero com que reincide no vício do perjúrio, antes de sugerir uma caricatura, apenas ressalta um traço cômico plausível no ambiente brasileiro.
O elenco de dez atores e três músicos dá conta da velocidade e do ritmo que essa comédia de ações físicas necessita e imprime. A montagem é modesta, o que é coerente com o gênero e com a proposta do grupo, mas certa cena mais ambiciosa, que se serve de sombras, não realiza suas potencialidades. Por outro lado, a trilha musical e os instrumentistas atuantes colaboram decisivamente.
"O Mentiroso", além de divertir, oferece a possibilidade de experimentar-se o cômico entre uma forma convencional que já tinha se rachado e outra que ainda não se definira plenamente.

O MENTIROSO

QUANDO hoje, às 21h; dom., às 20h, e seg., às 20h; até 28/2
ONDE Teatro Commune (r. da Consolação, 1218, tel. 3476-0792)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom


Próximo Texto: Crítica/Drama: Longa retrata saga familiar em meio a conflitos no Líbano
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.