São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Longa retrata saga familiar em meio a conflitos no Líbano

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Há duas tramas que se encontram em "Incêndios". Numa delas, dois irmãos gêmeos recebem da mãe a missão de encontrar o próprio pai e o meio-irmão, que desconhecem.
Na outra, desenrola-se o drama do Líbano, nação prensada entre católicos e muçulmanos, entre Israel e os refugiados palestinos.
Nawal Marwan, este é o nome da mãe, é uma católica que engravida do refugiado por quem se apaixonara.
Ato contínuo, o rapaz é metralhado, e ela, repudiada pela própria família. Seu filho vai parar em um orfanato, que é destruído pelas milícias cristãs. Marwan vinga-se matando um chefe cristão.
Ela pertence a dois povos e não pertence a nenhum. Após ser violentada numa prisão, embarca para o Canadá. Será uma mãe ausente, no dizer de Simon, o gêmeo homem. Não é de estranhar.
As duas histórias se entrelaçam. Enquanto Jeanne, a gêmea, busca sinais da presença materna no Líbano, um caldeirão de coisas destruídas pela guerra, pelas crenças, pela intolerância, enfim, tomamos conhecimento dos atos de Marwan, que fazem dela uma heroína ou uma traidora.
Talvez a principal virtude do filme consista em ter encontrado uma forma de informar o espectador sobre a brutalidade (e irracionalidade) do drama vivido no Líbano. Esse aspecto é o mais bem resolvido, também em termos de "mise-en-scène", neste filme do canadense Denis Villeneuve.
A seção melodrama, que envolve sobretudo as doloridas perplexidades dos filhos diante das descobertas que vão fazendo, é mais irregular: por vezes, suas atitudes (sobretudo as de Simon) parecem girar em falso.
O mesmo não se dirá do final, cujo princípio melodramático é exemplar, na medida em que, malgrado o arbitrário da trama, promove o encontro do sofrimento pessoal e do coletivo.
Enfim, o filme que representa o Canadá no Oscar de filme em língua estrangeira (a produção é do Québec) pode não ser uma obra-prima, mas está léguas acima do que oferece essa categoria.
Aqui, não há lugar para poesia. E se lágrimas existem, elas são, ao menos, justificadas.

INCÊNDIOS

DIREÇÃO Denis Villeneuve
PRODUÇÃO Canadá/França, 2010
COM Lubna Azabal, Mélissa Désormeaux-Poulin
ONDE nos cines Espaço Unibanco, Reserva Cultural e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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