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Crítica/teatro/"Ilustríssimo Filho da Mãe"
Peça de Leilah Assumpção reforça clichês feministas
Conflito entre quarentão em crise e sua mãe estaciona em tese rasa e rançosa
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Leilah Assumpção, desde
a sua estréia com "Fala
Baixo Senão Eu Grito",
de 1969, é uma dramaturga de
importância inegável. Vendo
do ponto de vista feminino, em
geral com humor ferino, as incoerências de sua geração, tem
uma carreira internacional de
respeito. Márcio Aurélio é um
encenador meticuloso que não
costuma fazer concessões e é
responsável por obras-primas
como "Agreste", peça de grande
risco e beleza.
Por isso, nos primeiros momentos de "Ilustríssimo Filho
da Mãe", ao ver dois grandes
atores iniciarem uma longa cena em tempo real, de um conflito pouco explorado -o choque
de gerações entre um quarentão em crise conjugal e sua mãe
que se recusa ao clichê de "velha mãe", apesar de seus 70
anos- diante de um belíssimo
cenário, com uma enorme tela
que puxa a trama para o simbólico, há a impressão de que nada pode dar errado.
E, no entanto, o tempo passa,
e o conflito não se aprofunda.
Inúmeras alusões a fatos anteriores e acusações genéricas e
categóricas ("Vocês, homens...") vão confirmando o
beco sem saída de uma peça de
tese que chove no molhado. Na
dupla condição patética de machista, logo infantil diante das
mulheres, e quarentão que não
soube dar um rumo à sua vida, o
personagem pouco tem a oferecer, e Jairo Mattos só consegue
alguma verossimilhança ao ironizar os clichês que tem a dizer
-truque que já usara recentemente em "Don Juan" e que o
vem marcando como um ator
que economiza seus recursos.
Miriam Mehler, por sua vez,
aos 40 anos de carreira, tem um
carisma inegável e é perfeita
para defender uma personagem que se mantém atraente
sexualmente após os 60 anos.
Porém muitas vezes parece se
constranger diante do que tem
a dizer e acaba também por parodiar seu personagem.
Bandeira
Diante da falta de ação, e da
falta de conflitos reais, Márcio
Aurélio tem pouco o que fazer.
Os personagens circulam a esmo pelo apartamento, triangulam com a platéia evidenciando
o tom farsesco dos seus argumentos, mas o tom logo enjoa.
A surpresa final, com a chegada
de um terceiro personagem,
não ajuda.
A questão é que a atual bandeira de Assumpção -o direito
de sua geração a não se tornar
"respeitável", mantendo uma
provocadora vulgaridade nos
diálogos, como que celebrando
uma segunda adolescência-,
longe de ser contagiante, acaba
se afundando em narcisismo.
Não rompe clichês, como "Ensina-me a Viver", mas os reforça despudoradamente, não
acrescentando nada a uma discussão feminista já rançosa.
O homem atual não merece a
nova mulher, que se libertou, e
que mesmo assim se enternece
diante de sua primariedade. A
conclusão já estava pronta nos
primeiros minutos. Acaba ficando a impressão de um grande desperdício de recursos para
uma tese tão rasa.
ILUSTRÍSSIMO FILHO DA MÃE
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às
19h
Onde: Jaraguá - Novotel (r. Martins
Fontes, 71, tel. 3255-4380)
Quanto: R$ 60
Avaliação: ruim
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