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Carmen Calvo expõe seu surrealismo
Artista espanhola tem Luis Buñuel como referência; trabalhos estão em mostra no Museu Afro Brasil
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Lá dos anos 30, época em que
recriou uma Paris inflamada
pelos trabalhos dos artistas
mais influentes do mundo, o
surrealismo até hoje tem braços pela Europa. Na Espanha,
os trabalhos de Salvador Dalí e
Luis Buñuel, dois dos principais surrealistas espanhóis,
ainda distribuem caminhos pelo cenário contemporâneo, e o
Museu Afro Brasil traz agora
uma prova dessa longa herança, com uma série retrospectiva
da obra de Carmen Calvo.
A artista, que hoje vive em
Valência, destaca o cineasta
Buñuel como a principal referência em sua obra de sensações oníricas, de representações psicanalíticas, de inversões lógicas. Por que especificamente Buñuel? "Porque é ele
quem mais se aproxima do
mundo dos objetos", responde.
A ligação com seu trabalho
está estabelecida, enfim. Carmen também utiliza objetos
pessoais -bonecos, fotos de famílias, cartas manuscritas-
para ir moldando o retrato de
"infâncias maltratadas, de uma
sociedade de valores familiares
e religiosos". Ela lembra a cena
de uma navalha cortando um
globo ocular em "Cão Andaluz"
(parceria entre Buñuel e Dalí,
datada de 1929) para valer-se
também da imagem de pequenos olhos de bonecas pontilhando alguns de seus trabalhos com intervenções.
A formação acadêmica lhe
garante também apropriações
muito específicas, a exemplo da
série em que compõe sobre tela
de fundo negro, em referência à
pintura espanhola do século 18.
"Matthiew", um dos quadros
dessa série, se deleita sobre o
mau gosto das cenas de horror,
como o próprio Buñuel fazia,
na imagem de um bebê de plástico, não maior que a palma de
uma mão, enforcado, ao lado de
um sutiã, entre outros objetos
simbólicos.
Um cubo com cerca de 2m x
2m também tem forte presença
na mostra, encerrando, em seu
interior, brinquedos infantis
dispostos como se habitando o
quarto de uma criança.
A comicidade, a morbidez, o
erotismo, a representação da
infância e da vida familiar, ali,
andam de mãos dadas, numa
criação que se inicia nos anos
70, contaminada pela festividade da chamada Movida Madrileña, movimento que surge em
Madri depois de um longo período de ditadura, extravasando referências surrealistas e liberdade de expressão.
O cineasta Pedro Almodóvar
deu seus primeiros passos junto a esse movimento, assim como o fez Carmen Calvo. Só que,
dos anos 70, a artista traz paisagens menos politizadas e com
poucos traços surrealistas, de
relevos de parede esculpidos
em barro.
(GF)
RETROSPECTIVA DE CARMEN CALVO
Quando: ter. a dom., das 10h às 17h30
Onde: Museu Afro Brasil - Pavilhão
Manuel da Nóbrega (parque do Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nš,
tel. 5579-0593)
Quanto: grátis
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