São Paulo, sábado, 26 de agosto de 2006

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Carmen Calvo expõe seu surrealismo

Artista espanhola tem Luis Buñuel como referência; trabalhos estão em mostra no Museu Afro Brasil

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Lá dos anos 30, época em que recriou uma Paris inflamada pelos trabalhos dos artistas mais influentes do mundo, o surrealismo até hoje tem braços pela Europa. Na Espanha, os trabalhos de Salvador Dalí e Luis Buñuel, dois dos principais surrealistas espanhóis, ainda distribuem caminhos pelo cenário contemporâneo, e o Museu Afro Brasil traz agora uma prova dessa longa herança, com uma série retrospectiva da obra de Carmen Calvo.
A artista, que hoje vive em Valência, destaca o cineasta Buñuel como a principal referência em sua obra de sensações oníricas, de representações psicanalíticas, de inversões lógicas. Por que especificamente Buñuel? "Porque é ele quem mais se aproxima do mundo dos objetos", responde.
A ligação com seu trabalho está estabelecida, enfim. Carmen também utiliza objetos pessoais -bonecos, fotos de famílias, cartas manuscritas- para ir moldando o retrato de "infâncias maltratadas, de uma sociedade de valores familiares e religiosos". Ela lembra a cena de uma navalha cortando um globo ocular em "Cão Andaluz" (parceria entre Buñuel e Dalí, datada de 1929) para valer-se também da imagem de pequenos olhos de bonecas pontilhando alguns de seus trabalhos com intervenções.
A formação acadêmica lhe garante também apropriações muito específicas, a exemplo da série em que compõe sobre tela de fundo negro, em referência à pintura espanhola do século 18.
"Matthiew", um dos quadros dessa série, se deleita sobre o mau gosto das cenas de horror, como o próprio Buñuel fazia, na imagem de um bebê de plástico, não maior que a palma de uma mão, enforcado, ao lado de um sutiã, entre outros objetos simbólicos.
Um cubo com cerca de 2m x 2m também tem forte presença na mostra, encerrando, em seu interior, brinquedos infantis dispostos como se habitando o quarto de uma criança.
A comicidade, a morbidez, o erotismo, a representação da infância e da vida familiar, ali, andam de mãos dadas, numa criação que se inicia nos anos 70, contaminada pela festividade da chamada Movida Madrileña, movimento que surge em Madri depois de um longo período de ditadura, extravasando referências surrealistas e liberdade de expressão.
O cineasta Pedro Almodóvar deu seus primeiros passos junto a esse movimento, assim como o fez Carmen Calvo. Só que, dos anos 70, a artista traz paisagens menos politizadas e com poucos traços surrealistas, de relevos de parede esculpidos em barro. (GF)

RETROSPECTIVA DE CARMEN CALVO
Quando:
ter. a dom., das 10h às 17h30
Onde: Museu Afro Brasil - Pavilhão Manuel da Nóbrega (parque do Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nš, tel. 5579-0593)
Quanto: grátis


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