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"NO RETROVISOR"
Espetáculo conta com Marcelo Serrado e Otávio Muller no elenco e está em cartaz no teatro Augusta
Paiva resgata a dignidade de uma geração
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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O ator Marcelo Serrado em cena do espetáculo "No Retrovisor" |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"No Retrovisor" é o retrato de uma geração que,
por hesitar se entrava à esquerda
ou à direita, manteve os olhos no
retrovisor e enfiou o carro no caminhão de lixo parado da História. Marcelo Rubens Paiva é porta-voz desde 1982, quando escreveu "Feliz Ano Velho", transformando o relato autobiográfico do
garoto que se tornou paraplégico
no emblema de uma juventude de
quem a ditadura tirou o chão, assassinou os pais e condenou ao
não esquecimento.
Com esta peça, agora presta
contas de erros e acertos, para um
novo recomeço. A peça narra o
reencontro de Marcos e Ney, que
eram atores alternativos nos anos
80 e agora se enquadraram. Ney
(Marcelo Serrado), após um acidente de carro, fica cego, e supera
a perda do futuro utópico com a
fama de cantor comercial.
Marcos (Otávio Muller) se manteve fiel aos felizes anos velhos e
não consegue ficar feliz, mesmo
tendo se casado com a musa da
dupla, com quem tem um filho.
O conflito não é maniqueísta:
Paiva expõe dúvidas, e não certezas. O que poderia haver de excessivo nas referências de época se
torna contagiante pelo endosso
apaixonado de Muller, com a entrega de um garoto dublando um
disco e reinventando seu quarto
em palco.
O cinismo de Serrado, que ironiza sua deficiência (Paiva não
precisa ser politicamente correto)
tem como contraponto um comovente relato da sobrevivência
no hospital. Em ambos os casos, a
luz de Wagner Pinto, que cria como por uma câmera subjetiva o
ofuscamento do show e a solidão
do escuro, e a direção de Mauro
Mendonça Filho, que transforma
em jogo de cabra-cega o amargo
desencontro dos amigos, contribuem para evitar que o texto caia
em um espetáculo assertivo demais, ou autodepreciativo.
As falhas do espetáculo se justificam pela urgência do momento
histórico em que acontece a montagem. Não foi perdida a geração
de 62. A peça termina com Marcos apresentando ao seu filho a
rua. Não quer segurança, pois
ainda é cedo: a geração de Marcelo Rubens Paiva está pronta para
assumir suas funções.
No Retrovisor
Direção: Mauro Mendonça Filho
Com: Marcelo Serrado e Otávio Muller
Onde: teatro Augusta (r. Augusta, 943,
Consolação, região central, tel. 3151-4141)
Quando: sex., às 22h, sáb., às 20h e 22h,
e dom., às 19h; até 22/12
Quanto: de R$ 30 a R$ 35
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