São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Dupla experimenta os limites da cena

Cristiane Paoli-Quito e Gero Camilo renovam parceria de "Aldeotas" com texto baseado em Homero

Rafael Hupsel/Folha Imagem
Camilo e Paoli-Quito, de ‘Lá Fora Vai Estar Chovendo Sempre’

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As inquietudes de Cristiane Paoli-Quito e Gero Camilo são usadas a serviço da arte. Eles puxam, esticam, estendem os limites da cena. Em "Lá Fora Vai Estar Chovendo Sempre", suas investigações avançam mais alguns passos.
Ainda em processo, o espetáculo dirigido por Quito e escrito por Camilo, também um dos intérpretes, que é apresentado até domingo, renova a parceria da dupla cinco anos depois de "Aldeotas" -peça que valeu à encenadora o prêmio Shell de melhor direção de 2004.
"É perene a fome de me surpreender com o palco", diz Gero, artista polivalente que escreve, atua e canta, sintonizado com Quito: "Abro um caminho e depois o arrebento para que novas coisas se alinhem".
Quito foi professora de Camilo na Escola de Arte Dramática da USP, em 1996. "Ainda é dado pouco valor para sua pesquisa. Na França, ela seria o Peter Brook", diz ele. Na nova parceria, a dupla experimenta trabalhar a cena com corpos marejantes, os quais se expressam em duas linguagens, uma ininteligível e outra lírica, cortante, reveladoras de um Camilo mais urbano.
A peça se inspira em "Odisseia", de Homero, mas, no lugar de centrar a história na viagem do herói, debruça-se sobre a família que fica. Essa boia à deriva, vítima de um dilúvio que já dura cinco anos e provocou o afastamento do personagem Pai. A chegada de um estrangeiro desestabiliza a frágil ordem encontrada e dissemina uma língua estranha nessa casa/barco, símbolo de Estado ou país.
Ainda que com a leveza da poesia e o desprendimento lógico do realismo fantástico, a peça discute temas ácidos, como incomunicabilidade e defesas territoriais. A diretora traduz a falta de solidez física e psíquica dos personagens servindo-se de uma plataforma instável sobre o piso. Como de hábito, ela, que lidera a Cia. Nova Dança 4, cria a partir do corpo. "Quero trabalhar a relação urbana que faz com que as pessoas se sintam ilhadas, apesar de rodeadas por um mar de gente", diz.


LÁ FORA VAI ESTAR CHOVENDO SEMPRE

Quando: de hoje a dom., às 20h
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 2168-1776); 14 anos
Quanto: grátis




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