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Chelpa Ferro retorna em filme e instalação
Trio carioca ganha documentário de Carlos Nader e expõe no Sesc Paulista
Grupo conhecido por criar obras sonoras surge quieto em documentário, enquanto instalação tem sons cantados por homens
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Cada ruído das obras do
Chelpa Ferro corresponde ao
silêncio dos integrantes do grupo. "Eles não falam", diz o cineasta Carlos Nader. "Não falar
é coisa deliberada mesmo."
Nader, que acaba de fazer documentário (da série Videobrasil Coleção de Autores) sobre o
trio de artistas, sabe disso. Seu
filme mostra toda a potência
sonora das obras do grupo carioca contraposta ao silêncio de
Barrão, Luiz Zerbini e Sérgio
Mekler, juntos desde os anos 90.
No filme, até respondem perguntas do diretor, mas não com
as próprias palavras. Cada resposta é um trecho de um livro
escolhido ao acaso. Marcel
Proust, Thomas Mann e Henri
Bergson entram na roda para
explicar o que são instalações
sonoras, onde começa a música
e acabam as artes visuais, por
que lâmpadas, polias, roldanas.
Do mesmo jeito que em
"Acusma", instalação que montam no Sesc Paulista, e na mostra que exibe o novo filme, o
trio faz uma espécie de música
matemática. No lugar das notas
tradicionais, saem números
cantados por homens num coral de dentro dos 30 vasos espalhados pelo chão do museu.
"É uma composição com 30
vozes", resume Zerbini. "A gente fez uma gravação usando uns
cantores em que vão cantando,
em vez de notas, números",
completa Barrão.
Silêncio
No documentário, o assunto
se esgota em imagens das obras
funcionando a todo vapor e durante a montagem. Os sacos
plásticos girando ritmados em
"Jungle Jam", obra que passou
por Salvador e São Paulo, a instalação sobre o piso alagado na
Bienal de Veneza e o elevador
sonoro construído na Pinacoteca, em SP, calam questões enchendo a tela de ruídos.
"O trabalho deve existir por
ele mesmo", diz Sérgio Mekler.
"Deve falar por si mesmo."
Nader entendeu a proposta e
fez um filme de silêncios e parcas explicações. Uma longa
passagem mostra os integrantes do grupo dormindo. Parecem compor uma música roncando, num misto de ironia lúdica e realidade.
"Isso mimetiza a atitude deles, não discute a atitude", diz
Nader. "Foi um exercício de tomar emprestada a visão deles."
Outra cena volta à entrevista
em que respondem perguntas
do diretor com trechos de livros. Barrão olha fundo na lente e repete as frases sopradas
pelos colegas escondidos fora
de cena. É um absurdo controlado, que se encaixa sem traumas no espírito do grupo que
tenta reinventar o som.
CHELPA FERRO
Quando: abertura hoje, às 20h (convidados); ter. a sex., 13h às 21h;
sáb. e dom., 11h às 20h; até 31/1
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista,
119, tel. 3179 3700); livre
Quanto: entrada franca
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