São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Chelpa Ferro retorna em filme e instalação

Trio carioca ganha documentário de Carlos Nader e expõe no Sesc Paulista

Grupo conhecido por criar obras sonoras surge quieto em documentário, enquanto instalação tem sons cantados por homens

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Cada ruído das obras do Chelpa Ferro corresponde ao silêncio dos integrantes do grupo. "Eles não falam", diz o cineasta Carlos Nader. "Não falar é coisa deliberada mesmo."
Nader, que acaba de fazer documentário (da série Videobrasil Coleção de Autores) sobre o trio de artistas, sabe disso. Seu filme mostra toda a potência sonora das obras do grupo carioca contraposta ao silêncio de Barrão, Luiz Zerbini e Sérgio Mekler, juntos desde os anos 90.
No filme, até respondem perguntas do diretor, mas não com as próprias palavras. Cada resposta é um trecho de um livro escolhido ao acaso. Marcel Proust, Thomas Mann e Henri Bergson entram na roda para explicar o que são instalações sonoras, onde começa a música e acabam as artes visuais, por que lâmpadas, polias, roldanas.
Do mesmo jeito que em "Acusma", instalação que montam no Sesc Paulista, e na mostra que exibe o novo filme, o trio faz uma espécie de música matemática. No lugar das notas tradicionais, saem números cantados por homens num coral de dentro dos 30 vasos espalhados pelo chão do museu. "É uma composição com 30 vozes", resume Zerbini. "A gente fez uma gravação usando uns cantores em que vão cantando, em vez de notas, números", completa Barrão.

Silêncio
No documentário, o assunto se esgota em imagens das obras funcionando a todo vapor e durante a montagem. Os sacos plásticos girando ritmados em "Jungle Jam", obra que passou por Salvador e São Paulo, a instalação sobre o piso alagado na Bienal de Veneza e o elevador sonoro construído na Pinacoteca, em SP, calam questões enchendo a tela de ruídos. "O trabalho deve existir por ele mesmo", diz Sérgio Mekler.
"Deve falar por si mesmo." Nader entendeu a proposta e fez um filme de silêncios e parcas explicações. Uma longa passagem mostra os integrantes do grupo dormindo. Parecem compor uma música roncando, num misto de ironia lúdica e realidade.
"Isso mimetiza a atitude deles, não discute a atitude", diz Nader. "Foi um exercício de tomar emprestada a visão deles."
Outra cena volta à entrevista em que respondem perguntas do diretor com trechos de livros. Barrão olha fundo na lente e repete as frases sopradas pelos colegas escondidos fora de cena. É um absurdo controlado, que se encaixa sem traumas no espírito do grupo que tenta reinventar o som.


CHELPA FERRO

Quando: abertura hoje, às 20h (convidados); ter. a sex., 13h às 21h; sáb. e dom., 11h às 20h; até 31/1
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 3179 3700); livre
Quanto: entrada franca




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