Excesso de formalidade tira a força de relato e não ajuda a explicar época

Divulgação

O atores Fernanda Moro e Leonardo Machado em cena

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Para mudar a sociedade, é preciso primeiro compreendê-la" -eis a frase central de "Em Teu Nome". Uma pena que, enunciada pelo personagem principal, não repercuta na imagem do filme.
Pois o início, bastante sincero, nos situa no Rio Grande do Sul, onde um grupo composto por um ex-padre, um sindicalista e alguns estudantes decidem aderir à guerrilha da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).
Adesão um tanto irresponsável, de que boa parte da cidade deve ter tomado conhecimento, e a que se segue um assalto que cairia melhor tratado como comédia burlesca.
O que não seria nem de longe descabido -e nem desrespeitoso com os personagens: apenas traduziria em imagens o tanto de incompreensão sobre a sociedade que existia no grupo (e não era tão diferente da guerrilha em suas origens, pelo que se sabe do assunto).
O fato de ser baseado nas memórias de um personagem real, Bona Garcia, talvez seja o motivo de o filme de Paulo Nascimento usar tantas luvas de pelica que, no entanto, prejudicam enormemente o relato e acrescentam pouco para a compreensão da época e dos feitos.
O certo é que, depois de os personagens serem libertados (graças ao sequestro de um diplomata suíço) e enviados para o exterior, o filme executa um périplo mais turístico do que outra coisa por Chile, Argélia e França -lugares do exílio do protagonista até 1979.
Uma trajetória tratada com tanta formalidade que, no fim, o próprio filme deixa a impressão de não passar de uma formalidade.