JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Um forte candidato ao prêmio da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo para novos cineastas é "Os Cinco Sentidos", do diretor canadense Jeremy Podeswa, cujo primeiro filme, "Eclipse", foi exibido no evento há quatro anos.
Descrito pelo cineasta como "um épico íntimo", "Os Cinco Sentidos" entrelaça os destinos de meia dúzia de personagens que vivem ou trabalham no mesmo prédio de uma grande cidade.
A cada um deles corresponde um dos cinco sentidos: há a massagista quarentona, o oftalmologista francês (que está ficando surdo), a jovem escultora de bolos ornamentais, o faxineiro de luxo com olfato hiperdesenvolvido, o bonitão italiano com talento para a cozinha.
Esse painel de vidas paralelas é menos dinâmico que "Short Cuts", menos escabroso que "Felicidade", mais "cool" e artificial que ambos.

Gravidade existencial
Nos poucos dias em que se passa a ação, há um acontecimento que concerne em alguma medida a todos e que livra um pouco o filme do esquematismo: o sumiço de uma menina de 3 anos, filha de uma cliente da massagista.
A menina desapareceu num parque, por negligência da filha adolescente da massagista. Essa mocinha desajustada e impenetrável acaba sendo a personagem mais interessante, menos "enquadrada" do filme.
No mais, "Os Cinco Sentidos" parece hesitar entre o tom ligeiro de uma comédia de costumes e uma certa gravidade existencial "européia", que pesa mais no episódio do oftalmologista.
Por força de sua dupla pretensão à elegância e ao entretenimento, o filme se afasta da proposta embutida em seu título.
Há um esforço de composição e simetria que nada tem a ver com uma apreensão sensorial do mundo.
Falta calor, falta pulsação, falta sensualidade ao filme.
Ainda assim, alguns personagens são curiosos e alguns diálogos são espertos o suficiente para manter a atenção do público e, talvez, cativar sua afeição.
É, em suma, um filme simpático e dispensável, que promete mais do que cumpre.

Avaliação: