da Equipe de Articulistas

O chinês Zhang Yimou parece oscilar entre um cinema de grande ostentação plástica (caso de "Lanternas Vermelhas" e "Operação Xangai") e um despojado realismo social ("A História de Qiu Ju", "Tempos de Viver").
Seu novo filme, "Nenhum a Menos", vencedor do último Festival de Veneza, insere-se na segunda tendência. A bem da verdade, radicaliza-a, trabalhando com atores não-profissionais, num registro quase documental, como se Yimou tivesse feito um curso de cinema iraniano.
É com câmera discreta e decupagem essencial que Yimou desenvolve essa parábola sobre a penúria material e espiritual.
Numa escola rural nos confins da China, uma garota de 13 anos, Wei (Wei Minzhi), deve substituir por um mês o professor titular, cuja mãe está doente.
Wei terá de morar na própria escola, junto com alguns dos 28 alunos. Sua missão é garantir que nenhum deles abandone a escola. A pobreza é tamanha que a garota só dispõe de um giz para cada dia de aula -e nenhum livro. As camas dos alunos são improvisadas com as carteiras da classe.

República de crianças
Embora seu tema seja expressamente a evasão escolar -problema dramático na China contemporânea, sobretudo nas áreas rurais-, o filme, em sua primeira parte, vai muito além disso.
Wei e seus alunos, perdidos no meio da China, formam uma comunidade à parte, uma república de crianças que espelha, em miniatura ou rascunho, os problemas do "país grande".
O filme cresce em humor (amargo) quando a obsessão de Wei por manter seus alunos produz situações cada vez mais absurdas, que culminam com sua ida à cidade grande, para buscar um deles, o rebelde Zhang Huike.
Quando atinge seu ponto mais alto -o desencontro entre as crianças e a vida urbana-, "Nenhum a Menos" (primeira produção da Columbia Pictures Asia) sucumbe às concessões. Oferece ao público o sentimentalismo fácil, e, ao governo chinês, o otimismo cívico. É assim que se frustra um grande filme. (JGC)

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