São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

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Crítica/cinema/"O Violino"

Drama extrai poesia da política

Divulgação
Don Angel Tavira (esq.) e Dagoberto Gama em "O Violino", longa mexicano que venceu prêmio especial do júri da Mostra de SP

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

"O Violino" é o prolongamento de um filme curto de 2005 que garantiu ao jovem mexicano Francisco Vargas uma vaga no projeto de residência organizado pelo Festival de Cannes. A versão longa, que entra em cartaz em São Paulo, foi desenvolvida em Paris durante a residência e estreou na mostra Um Certo Olhar do mesmo festival, no ano passado.
Com imagens em preto-e-branco, Vargas narra a história de um velho violinista amador, Don Plutarco (Don Angel Tavira), que perambula pela região rural de Guerrero, no México, com o filho Genaro e o neto Lucio. Juntos, eles formam uma banda -mas não só. Quando os militares se estabelecem na região para reprimir o movimento campesino, os três criam uma estratégia para colaborar com a resistência.
Com seu ar inocente, Don Plutarco estabelece uma tensa relação com os militares que ocupam seu vilarejo. Em troca de comida, oferece música. Mas o que o interessa de fato é estar ao lado dos militares, atento a informações importantes que poderão ser contrabandeadas para o movimento de resistência pelo filho e pelo neto.
O tema do filme, no fundo, é o mesmo de duas obras-primas recentes de Jean-Luc Godard, "Para Sempre Mozart" e "Nossa Música". Vargas também reflete sobre a capacidade destrutiva e criativa do homem usando a violência e a música como imagens máximas dessas capacidades. Mas as semelhanças param aí.
Existe um abismo entre os dois cineastas em termos de experiência, profundidade da reflexão e domínio da linguagem.
"O Violino" é bem mais ingênuo e algumas vezes primário, mas, dentro do campo em que se propõe a trabalhar, o diretor se revela um talento extremamente interessante. Vargas quer trabalhar a política sem se esquecer da poesia, projeto que costura com alguma habilidade. "O Violino" cai em algumas armadilhas, principalmente na representação da violência, que quase faz o filme cair na banalidade.
De uma maneira geral, a produção é capaz de extrair de uma imagem bruta e aparentemente tosca um sentido poético raro, que se desfaz, de maneira comovente, quando Don Plutarco se dá conta de que "se acabó la música".
Um belíssimo desfecho para um poderoso longa de estréia.

O VIOLINO    
Direção:
Francisco Vargas Quevedo
Produção: México, 2005
Com: Don Angel Tavira, Dagoberto Gama, Fermin Martinez
Quando: em cartaz no Cine Bombril


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