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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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TEATRO

Espetáculos, vídeo e palestras investigam a produção literária e a vida da escritora de "A Paixão segundo G.H."

"Sentidos de Clarice" celebram mistérios

Divulgação
Mariana Lima em "Raiz Quadrada Menos Um", solo de teatro/dança baseado em Clarice Lispector


DA REDAÇÃO

Lóri chega das compras e se prepara para encontrar Ulisses. Ana encontra um cego e Laura encara uma rosa. E, pairando numa realidade paralela, Clarice aponta a via-crúcis como o único caminho possível.
Variações num mesmo mundo, as personagens da escritora Clarice Lispector (1920-1977) ganham corpo e voz no evento "Sentidos de Clarice ou Clarice e Seus Sentidos", que acontece de hoje a quarta, no Sesc Consolação.
Composto por teatro, palestras e vídeo, o projeto equilibra-se entre dois opostos. De um lado, há a tentativa de analisar o mistério por trás da obra e personalidade de Lispector; por outro, a imersão nas epifanias das mulheres misteriosas e solitárias que tentam compreender o mundo.
"Clarice é inevitável", diz o diretor Enrique Diaz, que comparece com "Raiz Quadrada Menos Um", solo de teatro/dança de dez minutos encenado por Mariana Lima. O espetáculo é baseado em "A Paixão segundo G.H.", cuja adaptação teatral também é encenada na cidade pela dupla. "A dificuldade são os abismos que ela abre. Não é o clichê da loucura: Clarice descobre canais transcendentais no cotidiano."
A partir de atos aparentemente banais como tomar um café ou fumar um cigarro é que a literatura de Lispector deslanchava. "Raiz Quadrada" flagra o momento inicial do livro, antes de G.H. encontrar a barata. "O solo é o embrião da peça", explica Diaz.
Segundo ele, o desafio de transpor a autora para o palco foi "desarticular a idéia de identidade sem se esfacelar". Ou então transformar em atos uma narrativa composta por pensamentos e não por ações.
Após o solo, Diaz pretende mostrar um vídeo que registra os ensaios para o solo e para a peça, além de explicar o processo criativo em uma palestra/oficina.
Outro espetáculo que aborda personagens de Lispector é "Mulheres no Escuro", dirigido por Maria Stela Tobar. Obra ainda em processo de criação, "Mulheres" estará presente em fragmentos, que vão colocar as mulheres dos contos "Amor", "A Imitação da Rosa", "Um Dia a Menos" e do livro "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres" lado a lado.
"O que une essas personagens é o percurso da vida delas ao longo de um dia e a transformação pela qual elas irão passar", diz Tobar.
As personagens pouco se relacionam e convivem (e coexistem) em trajetórias paralelas. Mais do que teatro convencional, Tobar preocupou-se em criar imagens cênicas para textos da escritora.
Completa a programação o vídeo "Clandestina Felicidade", de Marcelo Gomes e Beto Normal, inspirado na infância da autora; uma palestra de Ana Miranda, autora de livro baseado em Lispector; e a leitura dramática da peça "A Vida Íntima de Laura", dirigida por José Geraldo Petean, baseada no conto homônimo.
(BRUNO YUTAKA SAITO)

SENTIDOS DE CLARICE OU CLARICE E SEUS SENTIDOS. Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3234-3000). Quando: hoje, exibição do curta "Clandestina Felicidade" (20h) e palestra da escritora Ana Miranda (20h30); "Mulheres no Escuro" (hoje, às 15h; ter. e qua., às 19h); "Raiz Quadrada Menos Um" (ter., às 20h) e "A Vida Íntima de Laura" (qua., às 20h). Quanto: entrada franca.


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