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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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MÚSICA

Quarta edição de festival, que começa hoje, terá sonoridade do músico americano, "mistura de jazz, blues e r&b"

Saxofone de Blythe pontua experimentações

EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Os frequentadores do Chivas Jazz Festival, que tem o seu início marcado para hoje, já sabem como o festival vai terminar: com muita experimentação e combinações sonoras pouco comuns.
Isso porque o saxofonista norte-americano Arthur Blythe (pronuncia-se "bláith"), 62, leva ao palco uma inusitada banda composta por saxofone, bateria e tuba.
"Na verdade, eu não sei muito bem por que optei por essa formação, mas acho que ela é bem conveniente para me acompanhar nessa mistura de jazz, blues e rhythm and blues que pretendo mostrar para os brasileiros", disse o saxofonista, por telefone, de sua casa em Los Angeles.
E essa disposição para ir além do trinômio piano-baixo-bateria já vem sendo exercitada desde 1977, ano em que ele lançou seu primeiro trabalho, "Metamorphosis". Ali já estavam a tuba e uma percussão com um pé na África e outro na Turquia.
Antes disso, Blythe moldou seu instinto de improvisador nos grupos do pianista Horace Tapscott, do baterista Chico Hamilton e do arranjador Gil Evans.

Decisão materna
Desde o início, ele se fez notar por um sopro que, apesar de inquieto e provocativo, paga tributo a seus ancestrais e ajuda a contar a história do saxofone no jazz.
Aliás, a escolha pelo instrumento não partiu de Blythe. "Quando eu tinha sete anos, queria tocar trombone. Mas minha mãe gostava mais de saxofone. E, é claro, ela venceu. Para mim fazia pouca diferença, pois o que eu queria era tocar. Não importava o quê."
Já com o presente materno na mão, o saxofonista passou a aprender a dominar o instrumento fundindo influências óbvias (John Coltrane, Miles Davis) com outras mais obscuras (o trombonista Lester Robinson e o também saxofonista Earl Bostic).
Toda essa confluência foi filtrada por Blythe e resultou num tipo de música que é pouco amigável para ouvidos destreinados ou em busca de saídas musicais fáceis.
"Por causa disso, minha música é muito mais respeitada na Europa do que em meu próprio país. Entre os europeus, é mais fácil encontrar gourmets auditivos."
Apesar da ousadia, o saxofonista assinou um contrato com a "major" Columbia, que estava de olho numa safra de jovens jazzistas, batizados de "young lions" (jovens leões), a partir do final dos anos 70.
"Com os discos da Columbia [foram sete], foi o mais perto que cheguei do estrelato. No começo, não havia pressão nenhuma, e eu podia tocar o que queria. Perto do fim, eles começaram a querer interferir na minha música."
Como não conseguiu dobrar o saxofonista, a gravadora apostou suas fichas em um jovem maleável e de som mais "amigável" para o ouvinte médio. O nome do garoto é Wynton Marsalis.

Repertório
Blythe estreou na Columbia em 1978 com o disco "In the Tradition". Visitando, à sua maneira vanguardista, clássicos como "In a Sentimental Mood", "Jitterbug Waltz" e "Caravan", o saxofonista promoveu um coro dos críticos norte-americanos, para quem o trabalho é o maior responsável pela onda de hard bop que dominou o jazz nos anos 80.
"Nunca pensei que o disco fosse tão importante. Para mim, ele foi apenas um espaço onde despejei as idéias que tinha no momento."
E essas idéias continuaram rendendo bons trabalhos nos anos 80 e 90. Alguns exemplos dignos de nota são "Basic Blythe" (1987), "Hipmotism" (1991) e "Night Song" (1997).
No mês que vem, chega ao mercado norte-americano "Exhale", CD que abriga, segundo o saxofonista, uma sonoridade muito próxima da que será ouvida durante suas apresentações no Chivas Jazz, pois lá está a mesma formação de saxofone, bateria e tuba.
"Apesar disso, meu show não será dominado por esse disco", diz Blythe, que prefere improvisar até na hora de montar o repertório.


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