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MÚSICA
Quarta edição de festival, que começa hoje, terá sonoridade do músico americano, "mistura de jazz, blues e r&b"
Saxofone de Blythe pontua experimentações
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Os frequentadores do Chivas
Jazz Festival, que tem o seu início
marcado para hoje, já sabem como o festival vai terminar: com
muita experimentação e combinações sonoras pouco comuns.
Isso porque o saxofonista norte-americano Arthur Blythe (pronuncia-se "bláith"), 62, leva ao
palco uma inusitada banda composta por saxofone, bateria e tuba.
"Na verdade, eu não sei muito
bem por que optei por essa formação, mas acho que ela é bem
conveniente para me acompanhar nessa mistura de jazz, blues e
rhythm and blues que pretendo
mostrar para os brasileiros", disse
o saxofonista, por telefone, de sua
casa em Los Angeles.
E essa disposição para ir além
do trinômio piano-baixo-bateria
já vem sendo exercitada desde
1977, ano em que ele lançou seu
primeiro trabalho, "Metamorphosis". Ali já estavam a tuba e
uma percussão com um pé na
África e outro na Turquia.
Antes disso, Blythe moldou seu
instinto de improvisador nos grupos do pianista Horace Tapscott,
do baterista Chico Hamilton e do
arranjador Gil Evans.
Decisão materna
Desde o início, ele se fez notar
por um sopro que, apesar de inquieto e provocativo, paga tributo
a seus ancestrais e ajuda a contar a
história do saxofone no jazz.
Aliás, a escolha pelo instrumento não partiu de Blythe. "Quando
eu tinha sete anos, queria tocar
trombone. Mas minha mãe gostava mais de saxofone. E, é claro, ela
venceu. Para mim fazia pouca diferença, pois o que eu queria era
tocar. Não importava o quê."
Já com o presente materno na
mão, o saxofonista passou a
aprender a dominar o instrumento fundindo influências óbvias
(John Coltrane, Miles Davis) com
outras mais obscuras (o trombonista Lester Robinson e o também
saxofonista Earl Bostic).
Toda essa confluência foi filtrada por Blythe e resultou num tipo
de música que é pouco amigável
para ouvidos destreinados ou em
busca de saídas musicais fáceis.
"Por causa disso, minha música
é muito mais respeitada na Europa do que em meu próprio país.
Entre os europeus, é mais fácil encontrar gourmets auditivos."
Apesar da ousadia, o saxofonista assinou um contrato com a
"major" Columbia, que estava de
olho numa safra de jovens jazzistas, batizados de "young lions"
(jovens leões), a partir do final dos
anos 70.
"Com os discos da Columbia
[foram sete], foi o mais perto que
cheguei do estrelato. No começo,
não havia pressão nenhuma, e eu
podia tocar o que queria. Perto do
fim, eles começaram a querer interferir na minha música."
Como não conseguiu dobrar o
saxofonista, a gravadora apostou
suas fichas em um jovem maleável e de som mais "amigável" para
o ouvinte médio. O nome do garoto é Wynton Marsalis.
Repertório
Blythe estreou na Columbia em
1978 com o disco "In the Tradition". Visitando, à sua maneira
vanguardista, clássicos como "In
a Sentimental Mood", "Jitterbug
Waltz" e "Caravan", o saxofonista
promoveu um coro dos críticos
norte-americanos, para quem o
trabalho é o maior responsável
pela onda de hard bop que dominou o jazz nos anos 80.
"Nunca pensei que o disco fosse
tão importante. Para mim, ele foi
apenas um espaço onde despejei
as idéias que tinha no momento."
E essas idéias continuaram rendendo bons trabalhos nos anos 80
e 90. Alguns exemplos dignos de
nota são "Basic Blythe" (1987),
"Hipmotism" (1991) e "Night
Song" (1997).
No mês que vem, chega ao mercado norte-americano "Exhale",
CD que abriga, segundo o saxofonista, uma sonoridade muito próxima da que será ouvida durante
suas apresentações no Chivas
Jazz, pois lá está a mesma formação de saxofone, bateria e tuba.
"Apesar disso, meu show não
será dominado por esse disco",
diz Blythe, que prefere improvisar
até na hora de montar o repertório.
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