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DANÇA/CRÍTICA
Virtuosismo e mistura de estilos e nacionalidades marcam criação de Maurice Béjart para a Compagnie M.
Palavras de Madre Teresa percorrem a noite
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Uma mensagem de amor e esperança... pela arte de Maurice Béjart. Com participação especial da estrela brasileira Márcia
Haydée, a Compagnie M. iniciou
nesta semana sua turnê pelo Brasil, com o espetáculo "Madre Teresa e as Crianças do Mundo".
Movimentos clássicos, acrobacias, ioga; músicas que vão de
cantos folclóricos do Rajastão a
composições de Hugues le Bars,
passando por Bach, Mozart e música pop. O espetáculo evoca as reflexões de madre Teresa, sem situá-la especificamente na Índia.
Em cena, bailarinos de várias nacionalidades escutam e ecoam as
lições da madre e clamam por ela.
"Madre Teresa", no caso, é Marcia Haydée. Aos 66 anos, com seus
longos cabelos pretos, ela está
sempre presente no palco. De maneira sóbria, dá a cada quadro seu
sentido, em citações faladas: "Minha casa é a casa dos pobres"; "arranje um tempo para brincar, ...
para viver..., para amar"; "a dança
é uma religião na Índia; a dança é
uma prece", "a plenitude de nossos corações é expressa por uma
infinidade de meios". Cada uma é
quase como a "moral", nessa
grande antologia de fábulas.
Há de tudo um pouco no palco.
A coreografia não segue uma
composição muito complexa: são
diversos passos de diversos estilos, um ao lado do outro, em desenhos geométricos. O espetáculo
vai de exercícios de ioga a movimentos que remetem aos musicais hollywoodianos, passando
pela dança clássica. Os bailarinos
dançam, falam, cantam e fazem
percussão com os bastões que
lhes servem de apoio para saltos e
exercícios diários de aula.
Bailarinos de técnica impecável.
Quinta passada, no Municipal, o
brasileiro William Pedro fez giros
perfeitos, equilíbrios de tirar o ar,
saltos suaves, muito molejo. Outro destaque foi Yannis François,
de Guadalupe, com sua bela voz
de barítono, além de dançar muito bem, com movimentos fluidos
e precisos.
Entre as mulheres, destaque para a argentina Luciana Croatto,
com técnica de linhas extremas na
dança clássica. Em outro plano,
Haydée faz um virtuosístico solo
de movimentos corriqueiros.
Exemplo de cena construída:
cinco grupos de três bailarinos,
onde dois suspendem e abaixam
várias vezes um terceiro, "morto";
depois vê-se a ascensão de Márcia
Haydée, sustentada pelos bailarinos e recoberta por um imenso
véu azul da Virgem.
Exemplo de pergunta possível:
será que só a soma de virtuosismos compõe uma coreografia?
Será possível transpor para o palco "lições de vida", sem cair no
vazio das "mensagens"?
Outra: será que a alegria buscada pela coreografia, apostando na
juventude dos bailarinos, não fica
por vezes gratuita? Rico como é, o
espetáculo não encontra, afinal,
seu eixo -nem na leveza dos gestos, nem no portento das idéias.
Transpostas para a dança, as lições de Madre Teresa correm o
risco de se tornar, paradoxalmente, apenas palavras no ar.
Avaliação:
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