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CRÍTICA
Artista britânico passeia ainda por blues, new wave, pop, punk e soul em apresentação no Tom Brasil anteontem
Elvis Costello reencontra o rock em São Paulo
Sylvia Sanchez/Divulgação
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O inglês Elvis Costello em show em SP anteontem, no Tom Brasil |
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
De Elvis Costello -esteta do
pop, parceiro de Paul
McCartney, marido de Diana
Krall, gravado por Chet Baker-
dava para esperar muitas coisas.
Quem sabe até um show de rock.
Pois foi isso que o inglês cinqüentenário ofertou à platéia que
compareceu ao Tom Brasil anteontem. Com direito a inúmeros
solos de guitarra, ele transitou pelo terreno menos polido de sua
vasta obra. Foi punk, foi new wave, foi blues, foi soul, foi Chuck
Berry. E não houve quem não
saísse da casa revigorado pela
brutalidade de sua pegada.
Como atração do Tim Festival
(nas edições carioca e mineira), o
cantor e guitarrista havia deixado
centenas de admiradores em êxtase. Mas foram os de São Paulo
que assistiram ao set mais longo e,
portanto, melhor.
Em duas horas e vinte minutos,
Costello compartilhou 28 de suas
canções (número curioso, uma
vez que, em 28 anos de carreira, o
músico lançou 28 álbuns).
Já na inaugural "Uncomplicated", precisou repetir o gesto usado no Rio e em Belo Horizonte
para driblar a configuração nada
rock and roll "mesa e cadeira".
Com as mãos, chamou alunos
mais aplicados para o gargarejo.
Em "Radio, Radio", um integrante do grupo The Imposters
encontrou brecha para brilhar.
Steve Nieve, acompanhante de
Costello desde a época em que o
grupo era conhecido como The
Attractions, passeou faceiro pelas
teclas de seus órgãos vintages enquanto seus companheiros aceitavam os papéis de coadjuvantes.
Na ácida "Tear off Your Own
Head (It's a Doll Revolution)",
Nieve manipulou um teremim. E
voltou a ele mais adiante para enfeitar "Bedlam". Mas sem a cozinha do batera Pete Thomas e do
baixista Davey Faragher, o ska "(I
Don't Want to Go to) Chelsea",
por exemplo, não teria a pulsação
certa para o tecladista se esbaldar.
Enfrentando problemas com a
voz, Costello praticamente não falou entre as músicas. Preferiu dar
o recado com improvisos em seu
instrumento e aí até abdicou do
rock. A suingada "Clubland", em
versão de oito minutos, desembocou no dedilhado de "Insensatez"
(Tom e Vinicius). "Alison" ganhou trechos de "Tears of a
Clown" (Smokey Robinson) e
"Suspicious Minds".
O passar dos minutos, apesar de
prazeroso, angustiava quem sabia
que Costello não conseguiria liberar todas as suas gemas até o acender das luzes. E como ele é mestre
em ignorar marcações do set list e
guiar a banda por atalhos inimagináveis, a audiência paulistana
foi presenteada com a rara "Lipstick Vogue", mas não pôde ouvir
"Everyday I Write the Book", executada no Rio, nem "Accidents
Will Happen" e "Shipbuilding",
exclusivas de Belo Horizonte.
Para compensar ausências,
mandou uma seqüência arrasadora antes de deixar o palco:
"Pump it Up", "I Can't Stand Up
(for Falling Down)", "High Fidelity", "Mistery Dance" e "Oliver's
Army". Voltou para cantar a brega "She" (Charles Aznavour),
provavelmente instruído por algum produtor local. Com o rock
saindo pelos poros, emendou
"(What's So Funny "Bout) Peace,
Love and Understanding?" para
restabelecer a ordem da noite.
Noite na qual o eclético britânico
fez as pazes com um velho amigo.
Avaliação:
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