São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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CRÍTICA

Artista britânico passeia ainda por blues, new wave, pop, punk e soul em apresentação no Tom Brasil anteontem

Elvis Costello reencontra o rock em São Paulo

Sylvia Sanchez/Divulgação
O inglês Elvis Costello em show em SP anteontem, no Tom Brasil


JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

De Elvis Costello -esteta do pop, parceiro de Paul McCartney, marido de Diana Krall, gravado por Chet Baker- dava para esperar muitas coisas. Quem sabe até um show de rock.
Pois foi isso que o inglês cinqüentenário ofertou à platéia que compareceu ao Tom Brasil anteontem. Com direito a inúmeros solos de guitarra, ele transitou pelo terreno menos polido de sua vasta obra. Foi punk, foi new wave, foi blues, foi soul, foi Chuck Berry. E não houve quem não saísse da casa revigorado pela brutalidade de sua pegada.
Como atração do Tim Festival (nas edições carioca e mineira), o cantor e guitarrista havia deixado centenas de admiradores em êxtase. Mas foram os de São Paulo que assistiram ao set mais longo e, portanto, melhor.
Em duas horas e vinte minutos, Costello compartilhou 28 de suas canções (número curioso, uma vez que, em 28 anos de carreira, o músico lançou 28 álbuns).
Já na inaugural "Uncomplicated", precisou repetir o gesto usado no Rio e em Belo Horizonte para driblar a configuração nada rock and roll "mesa e cadeira". Com as mãos, chamou alunos mais aplicados para o gargarejo.
Em "Radio, Radio", um integrante do grupo The Imposters encontrou brecha para brilhar. Steve Nieve, acompanhante de Costello desde a época em que o grupo era conhecido como The Attractions, passeou faceiro pelas teclas de seus órgãos vintages enquanto seus companheiros aceitavam os papéis de coadjuvantes.
Na ácida "Tear off Your Own Head (It's a Doll Revolution)", Nieve manipulou um teremim. E voltou a ele mais adiante para enfeitar "Bedlam". Mas sem a cozinha do batera Pete Thomas e do baixista Davey Faragher, o ska "(I Don't Want to Go to) Chelsea", por exemplo, não teria a pulsação certa para o tecladista se esbaldar.
Enfrentando problemas com a voz, Costello praticamente não falou entre as músicas. Preferiu dar o recado com improvisos em seu instrumento e aí até abdicou do rock. A suingada "Clubland", em versão de oito minutos, desembocou no dedilhado de "Insensatez" (Tom e Vinicius). "Alison" ganhou trechos de "Tears of a Clown" (Smokey Robinson) e "Suspicious Minds".
O passar dos minutos, apesar de prazeroso, angustiava quem sabia que Costello não conseguiria liberar todas as suas gemas até o acender das luzes. E como ele é mestre em ignorar marcações do set list e guiar a banda por atalhos inimagináveis, a audiência paulistana foi presenteada com a rara "Lipstick Vogue", mas não pôde ouvir "Everyday I Write the Book", executada no Rio, nem "Accidents Will Happen" e "Shipbuilding", exclusivas de Belo Horizonte.
Para compensar ausências, mandou uma seqüência arrasadora antes de deixar o palco: "Pump it Up", "I Can't Stand Up (for Falling Down)", "High Fidelity", "Mistery Dance" e "Oliver's Army". Voltou para cantar a brega "She" (Charles Aznavour), provavelmente instruído por algum produtor local. Com o rock saindo pelos poros, emendou "(What's So Funny "Bout) Peace, Love and Understanding?" para restabelecer a ordem da noite. Noite na qual o eclético britânico fez as pazes com um velho amigo.


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