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Crítica/"Quatro Janelas"
Promissora estréia reforça renovação do cinema alemão
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Em meio aos excessos
dos festivais, alguns pequenos filmes podem
passar despercebidos. No caso
da seleção alemã nesta Mostra,
existem títulos que chamam a
atenção, como é o caso de "O
Desejo Liberado", porque chegam carregados de prêmios
(Urso de Prata em Berlim-2006). Outros, apesar de mais
discretos, não escondem um
movimento consistente de renovação do cinema alemão e
merecem ser conferidos. É o
caso de "Quatro Janelas", longa
de estréia do jovem diretor
Christian Moris Müller.
Seu tema é a família, encarada aqui como núcleo de afetos
sujeito mais à desconexão do
que à unidade. O título se refere
material e simbolicamente aos
quatro personagens que o diretor retrata, integrantes de uma
molécula familiar, mas que se
comportam como átomos, cada
um se dirigindo de maneira
desconectada e aleatória.
O filme na origem era um
projeto de curta, centrado na figura do filho, que constitui a
primeira das quatro partes do
longa. Para desenvolvê-lo em
extensão, Müller recuperou
uma proposição original de
Akira Kurosawa, que em "Rashomon" construiu a narrativa
alterando os pontos de vista. A
alteração do foco narrativo se
justifica aqui como forma de
acentuar a desconexão emocional de seus personagens em relação ao núcleo familiar.
Mais que a estrutura, contudo, é o modo de capturar as individualidades, através de planos longos e de uma encenação
seca e distanciada, que revela o
talento desse diretor. Em vez
de nos conduzir para uma culminância dramática, ele se
atém, graças ao minimalismo
de sua proposta, a detectar os
movimentos subterrâneos,
projetados aqui em espaços domésticos, o que só fortalece a
impressão desse retrato de almas aspiradas pelo vazio.
QUATRO JANELAS
Direção: Christian Moris Müller
Onde: hoje, às 18h, no Centro Cultural São Paulo
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