São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Crítica/"Quatro Janelas"

Promissora estréia reforça renovação do cinema alemão

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Em meio aos excessos dos festivais, alguns pequenos filmes podem passar despercebidos. No caso da seleção alemã nesta Mostra, existem títulos que chamam a atenção, como é o caso de "O Desejo Liberado", porque chegam carregados de prêmios (Urso de Prata em Berlim-2006). Outros, apesar de mais discretos, não escondem um movimento consistente de renovação do cinema alemão e merecem ser conferidos. É o caso de "Quatro Janelas", longa de estréia do jovem diretor Christian Moris Müller.
Seu tema é a família, encarada aqui como núcleo de afetos sujeito mais à desconexão do que à unidade. O título se refere material e simbolicamente aos quatro personagens que o diretor retrata, integrantes de uma molécula familiar, mas que se comportam como átomos, cada um se dirigindo de maneira desconectada e aleatória.
O filme na origem era um projeto de curta, centrado na figura do filho, que constitui a primeira das quatro partes do longa. Para desenvolvê-lo em extensão, Müller recuperou uma proposição original de Akira Kurosawa, que em "Rashomon" construiu a narrativa alterando os pontos de vista. A alteração do foco narrativo se justifica aqui como forma de acentuar a desconexão emocional de seus personagens em relação ao núcleo familiar.
Mais que a estrutura, contudo, é o modo de capturar as individualidades, através de planos longos e de uma encenação seca e distanciada, que revela o talento desse diretor. Em vez de nos conduzir para uma culminância dramática, ele se atém, graças ao minimalismo de sua proposta, a detectar os movimentos subterrâneos, projetados aqui em espaços domésticos, o que só fortalece a impressão desse retrato de almas aspiradas pelo vazio.


QUATRO JANELAS    
Direção: Christian Moris Müller
Onde: hoje, às 18h, no Centro Cultural São Paulo


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