|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Shakespeare Mudo"
Códigos esquecidos brilham em filmes mudos "teatrais"
CRÍTICO DA FOLHA
Há duas razões para se
ver os Shakespeares
mudos, resgatados
dos arquivos do British Film
Institute: uma teatral, outra cinematográfica. O teatro sendo
escrito em areia, como cunhou
Peter Brook: por exemplo, são
poucas as ocasiões de se ver o
registro de uma apresentação
em 1911 da então famosa companhia inglesa de sir Frank
Benson, em um Ricardo 3º que,
diante de telões pintados e gestos grandiloqüentes, faz esquecer a ausência de diálogos.
Embora o distanciamento
histórico nos dê uma impressão de ingênuo canastronismo,
esse padrão pré-Stanislavski de
interpretação resgata um teatro de convenções precisas.
Com esse enfoque, é fascinante ver Florence Turner,
uma das primeiras estrelas do
cinema americano, fazer Viola
na "Noite de Reis", de Charles
Kent, de 1910 -ou, naquele
ano, os italianos da Film d'Arte,
nas versões de Gerolamo Lo Savio para "Rei Lear" e "O Mercador de Veneza".
Nesse contexto, é fácil ver como o teatro emprestava prestígio a uma arte recém-nascida.
Não ocorria a ninguém nessa
indústria incipiente deslocar a
câmera, por exemplo -fixa no
meio da cena, são os atores que
entram e saem de campo.
O plano americano e o close
ainda não tinham sido inventados, e o único efeito propriamente cinematográfico era o
desaparecimento ou o surgimento instantâneo, vindo diretamente do universo do mágico
francês Méliès.
Esse universo onírico é reforçado pelas tentativas de recuperar a cor -e temos películas
caprichosamente pintadas à
mão pela Film d'Arte, em um
grande trabalho de restauração. A ausência de som é recompensada pela trilha sonora
de Laura Rossi, que a Mostra
traz requintadamente ao vivo,
com o Quarteto Portinari da
Osesp. Um sonho a ser compartilhado.
(SERGIO SALVIA COELHO)
SHAKESPEARE MUDO
Direção: vários
Onde: hoje, às 21h20, no Cinesesc
Texto Anterior: Crítica/"Quatro Janelas": Promissora estréia reforça renovação do cinema alemão Próximo Texto: Evento/teatro: Polonês discute corpo e biopolítica Índice
|