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Evento/teatro
Polonês discute corpo e biopolítica
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Mudanças na percepção do
corpo ao longo da história, contextos político e social, e sua
emersão nas artes cênicas compõem a base da conferência que
o pesquisador polonês Michal
Kobialka, professor da universidade de Minnesota (EUA),
realiza hoje em São Paulo.
Na terceira visita ao Brasil,
Kobialka fala sobre "Delirium
da Carne: Arte e Biopolítica no
Espaço do Agora". O encontro
gratuito acontece hoje no teatro Fábrica São Paulo.
"Como [o pensador francês
Michel] Foucault [1926-1984]
exprime em "História da Sexualidade", a modernidade biológica é o local onde a vida natural
começa a ser incluída nos mecanismos e cálculos do poder
do Estado; assim, a política gira
em torno de biopolíticas. O Estado territorial transforma-se
em Estado da população onde a
saúde da nação e a vida biológica são vistas como um problema de poder soberano", escreve
Kobialka, 49, em entrevista por
e-mail.
Como exemplo de ponto de
partida, pode-se traçar uma linha de tempo que vá do séc. 17,
quando alguns paradigmas cartesianos começam a cair, até
este séc. 21, em que o domínio
do medo aumenta pós-2001.
"Na cultura Ocidental, os
deslocamentos e transformações na percepção do corpo estão conectados ao arranjo e
rearranjo dos elementos que
constituem o conhecimento
sobre ele. Trata-se de uma
atenção ao corpo que é construído racional e discursivamente de modo que possa ser
incluído nos mecanismos e nos
cálculos do poder do Estado ou
da Igreja", afirma Kobialka.
"O corpo é, primeiro e fundamentalmente, um objeto histórico e político, que se torna visível no espaço da representação
[dança, teatro] definido por
aquilo que pode ser compreendido sobre ele, por quem o está
olhando ou como e onde ele pode ser visto."
O professor destaca algumas
etapas importantes no processo histórico, como a cultura da
dissecação anatômica na Renascença (séculos 14 a 16), que
marca um deslocamento logocêntrico para investigações
corporais. Passa pela aporia
(dúvida racional) no campo de
concentração de Auschwitz
(Polônia), transformado, em
pleno séc. 20, em local que rasgou abertamente o pensamento Iluminista (séc. 18).
Há ainda "as deliberações
pós-modernas no corpo -gênero, etnicidade, raça, globalização, o virtual etc.-, que nos
fazem pensar sobre "a sociedade do espetáculo" e de seu simulacro sobredeterminado por estruturas sociais, econômicas,
intenções progressivas, identidades políticas, psicanálise, feminismo etc."
O encontro com Kobialka é
uma realização do Núcleo 1 da
Cia. de Teatro Fábrica São Paulo, sob curadoria de Márcia de
Barros. O projeto é apoiado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade
de São Paulo.
DELIRIUM DA CARNE: ARTE E BIOPOLÍTICA NO ESPAÇO DO AGORA
Onde: Teatro Fábrica São Paulo (r.
da Consolação, 1.623, tel. 3255-5922)
Quando: hoje, às 10h
Quanto: entrada franca
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