São Paulo, Sábado, 29 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS
A primeira mostra do grupo de estudos em curadoria trata do erotismo na arte brasileira
Sexo é tema de exposição no MAM

Rômulo Fialdini/Divulgação
"Eva", de Sérgio Romagnolo, é que dá boas-vindas ao visitante


JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha


O curador de arte é, na realidade, um voyeur. Essa é a mais nova confissão do grupo de estudos em curadoria do MAM, que inaugura o calendário oficial de sua sala-laboratório com uma exposição de arte erótica.
"Ars Erotica - Sexo e Erotismo na Arte Brasileira" mal começou e já é uma mostra histórica porque aborda um tema pouco explorado da arte nacional. Curiosamente, a obra mais antiga da exposição, um nu datado de 1917 feito por Anita Malfatti, faz uma ponte com a última retrospectiva de arte erótica brasileira, realizada em 95 na Pinacoteca, que terminava com obras da artista modernista.
A exposição comprova que a sala Paulo Figueiredo, onde são realizadas as exposições do grupo de estudos, tornou-se mesmo um espaço laboratorial, propício a todas as possibilidades de montagem e propostas temáticas.
As paredes foram cobertas de um vermelho explícito sobre o qual desfilam nus, do sutil ao pornográfico, closes fetichistas, ícones eróticos. Fotografias e pinturas são equiparadas, desenho e vídeo dialogam.
A tipologia da arte erótica está representada em 44 obras do acervo do museu que os curadores Tadeu Chiarelli e Margarida Sant'Anna agruparam segundo subtemas como androginia, fetiche, tentação e narcisismo.
"Nós partimos da idéia de que assim como o ato de retratar o outro nu é uma espécie de voyeurismo, a curadoria é também voyeurista", afirma Chiarelli.
O fato de um homem e uma mulher terem feito a curadoria juntos também teve seus efeitos: eles queriam colocar na entrada da sala ícones da sexualidade feminina e masculina. Escolheram logo a escultura "Eva", de Sérgio Romagnolo, e não sabiam que símbolo masculino usar. Margarida sugeriu a fotografia "Carlinhos Brown como Exu", de Mário Cravo Neto, onde o curador não via erotismo nenhum até então.
Algumas das obras são de uma sutileza excessiva. Tente descobrir o que há de erótico na escultura de Edgard de Souza, no "Escalpe", de Tunga, ou nos desenhos de Alfredo Nicolaiewsky. "A exposição não é óbvia, foi feita mesmo para colocar o público para pensar", diz Chiarelli.
No caso de Nicolaiewsky, que reproduz verbetes de dicionário nos trabalhos expostos, a questão presente é o narcisismo, repetida nas obras que os ladeiam, que trazem imagens "rebatidas".
O grupo de estudos aproveita a primeira exposição do ano para apresentar obras recém-adquiridas pelo MAM ou doadas ao museu, como uma escultura sem título de Caíto, dois desenhos em nanquim de Farnese de Andrade e duas fotografias da série "Jericoacoara", de Marcelo Krasilcic.
As fotografias de Krasilcic carregam, na opinião de Chiarelli, a não-expressão do artista através da imagem. "O artista adota uma frieza perante o objeto sexual que difere muito do que faz Vitorio Gobbis nessa pintura, em que parece estar acariciando o corpo feminino ao retratá-lo", afirma.


Exposição: Ars Erotica - Sexo e Erotismo na Arte Brasileira Onde: MAM (pq. Ibirapuera, portão 3, Ibirapuera, tel. 549-9688) Quando: ter., qua. e sex.: 12h às 18h; qui.: 12h às 22h; sáb. e dom.: 10h às 18h. Até 27 de fevereiro Quanto: R$ 5 (grátis na ter. das 12h às 18h e qui. após as 17h)


Próximo Texto: Música: DJ Colt inaugura o Lov.express 2000
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.