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ARTES PLÁSTICAS
A primeira mostra do grupo de estudos em curadoria trata do erotismo na arte brasileira
Sexo é tema de exposição no MAM
Rômulo Fialdini/Divulgação
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"Eva", de Sérgio Romagnolo, é que dá boas-vindas ao visitante |
JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
O curador de arte é, na realidade, um voyeur. Essa é a mais nova
confissão do grupo de estudos em
curadoria do MAM, que inaugura
o calendário oficial de sua sala-laboratório com uma exposição de
arte erótica.
"Ars Erotica - Sexo e Erotismo
na Arte Brasileira" mal começou e
já é uma mostra histórica porque
aborda um tema pouco explorado da arte nacional. Curiosamente, a obra mais antiga da exposição, um nu datado de 1917 feito
por Anita Malfatti, faz uma ponte
com a última retrospectiva de arte
erótica brasileira, realizada em 95
na Pinacoteca, que terminava
com obras da artista modernista.
A exposição comprova que a sala Paulo Figueiredo, onde são realizadas as exposições do grupo de
estudos, tornou-se mesmo um espaço laboratorial, propício a todas as possibilidades de montagem e propostas temáticas.
As paredes foram cobertas de
um vermelho explícito sobre o
qual desfilam nus, do sutil ao pornográfico, closes fetichistas, ícones eróticos. Fotografias e pinturas são equiparadas, desenho e vídeo dialogam.
A tipologia da arte erótica está
representada em 44 obras do
acervo do museu que os curadores Tadeu Chiarelli e Margarida
Sant'Anna agruparam segundo
subtemas como androginia, fetiche, tentação e narcisismo.
"Nós partimos da idéia de que
assim como o ato de retratar o outro nu é uma espécie de voyeurismo, a curadoria é também voyeurista", afirma Chiarelli.
O fato de um homem e uma
mulher terem feito a curadoria
juntos também teve seus efeitos:
eles queriam colocar na entrada
da sala ícones da sexualidade feminina e masculina. Escolheram
logo a escultura "Eva", de Sérgio
Romagnolo, e não sabiam que
símbolo masculino usar. Margarida sugeriu a fotografia "Carlinhos Brown como Exu", de Mário
Cravo Neto, onde o curador não
via erotismo nenhum até então.
Algumas das obras são de uma
sutileza excessiva. Tente descobrir o que há de erótico na escultura de Edgard de Souza, no "Escalpe", de Tunga, ou nos desenhos de Alfredo Nicolaiewsky. "A
exposição não é óbvia, foi feita
mesmo para colocar o público para pensar", diz Chiarelli.
No caso de Nicolaiewsky, que
reproduz verbetes de dicionário
nos trabalhos expostos, a questão
presente é o narcisismo, repetida
nas obras que os ladeiam, que trazem imagens "rebatidas".
O grupo de estudos aproveita a
primeira exposição do ano para
apresentar obras recém-adquiridas pelo MAM ou doadas ao museu, como uma escultura sem título de Caíto, dois desenhos em
nanquim de Farnese de Andrade
e duas fotografias da série "Jericoacoara", de Marcelo Krasilcic.
As fotografias de Krasilcic carregam, na opinião de Chiarelli, a
não-expressão do artista através
da imagem. "O artista adota uma
frieza perante o objeto sexual que
difere muito do que faz Vitorio
Gobbis nessa pintura, em que parece estar acariciando o corpo feminino ao retratá-lo", afirma.
Exposição: Ars Erotica - Sexo e Erotismo
na Arte Brasileira
Onde: MAM (pq. Ibirapuera, portão 3,
Ibirapuera, tel. 549-9688)
Quando: ter., qua. e sex.: 12h às 18h;
qui.: 12h às 22h; sáb. e dom.: 10h às 18h.
Até 27 de fevereiro
Quanto: R$ 5 (grátis na ter. das 12h às
18h e qui. após as 17h)
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